Emily Blunt na estação de comboios: um filme muito distante dos clássicos do género


joao lopes
5 Out 2016 18:25

Um "best-seller" escrito por uma mulher e transformado em filme… Era o caso de "Gone Girl/Em Parte Incerta": notável romance de Gillian Flynn, transfigurado num filme de sofisticada ambiguidade por David Fincher. A evocação vem a propósito desta estreia, "A Rapariga no Comboio", quanto mais não seja porque a autora do livro, Paula Hawkins, foi acusada por alguns analistas de ter copiado elementos de "Gone Girl"…

Em qualquer caso, o problema não é esse. Acontece que o filme, dirigido por Tate Taylor, acaba por ser um caso sintomático de um banal entendimento da construção de "suspense" numa narrativa cinematográfica. Desde logo, porque a sua voz off começa por dominar o filme, mas cedo desaparece; depois, porque a divisão em capítulos parece resultar apenas da vontade de sonegar informação ao espectador para, mais tarde, a introduzir na história como se fosse uma espectacular "revelação".
Digamos que o ponto de partida — uma mulher, Rachel (Emily Blunt), que nas suas rotineiras viagens de comboio observa uma casa familiar, aí detectando sinais de algo que sugere alguma prática criminosa — é sugestivo. O certo é que toda a encenação resulta da acumulação de "citações" mais ou menos óbvias, agravando as comparações.
Pensamos, claro, acima de tudo, nos comboios de Alfred Hitchcock, com inevitável destaque para "O Desconhecido do Norte Expresso" (1951), curiosamente também baseado num romance de uma mulher, Patricia Highsmith. O "suspense" nascia, aí, da admirável gestão do conhecimento/desconhecimento das personagens e do espectador.
Tate Taylor é apenas um gestor de "truques" mais ou menos vistosos, confundindo a "surpresa" em tom ilusionista com a intensidade dos mecanismos de "suspense" — infelizmente, pensando na sua filmografia, estamos longe da subtileza dramática do seu trabalho em "As Serviçais" (2011).

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