MIRAL, de Julian Schnabel  

Os equívocos de Julian Schnabel

"Miral" é um filme pouco convincente sobre o conflito entre israelitas e árabes.

Os equívocos de Julian Schnabel
A actriz Freida Pinto assume a fase adolescente de Miral
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 Os equívocos de Julian Schnabel
Miral Jerusalém, 1948. Uma menina órfã palestiniana é resgatada da rua, juntamente com dezenas de outras, por alguém que as quer ajudar, providenciando comida e abrigo. Estas crianças passam a milhares em pouco tempo e assim nasce o Instituto Dar Al-Tifel. Miral (Freida Pinto e Hiam Abbass) é educada aqui, em segurança, protegida dos conflitos do seu país. Quando aos 17 anos é destacada para dar aulas ...
Vídeo:
Os equívocos de Julian Schnabel
Julian Schnabel sobre "Miral" O artista plástico nova-iorquino fala com José Paulo Alcobia sobre o drama histórico e biográfico.

O pintor e cineasta nova-iorquino Julian Schnabel prima pela escolha de projectos que permitam vincar um ponto de vista a partir da vida de uma figura - foi assim quando biografou o pintor Basquiat, contou a história do editor francês Jean-Dominique Bauby ("O Escafandro e a Borboleta") e evocou a luta política protagonizada pelo escritor e dissidente cubano Reynaldo Arenas ("Antes que Anoiteça").

A mais recente figura do seu cinema é Miral, uma personagem inspirada num novela literária da jornalista palestiniana Rula Jebreal, que cresceu em Israel, conheceu os campos de refugiados palestinianos, exilou-se em Itália aos 20 anos e, actualmente, com 38 anos, reside nos Estados Unidos.

O drama biográfico permite-lhe contextualizar a convivência conflituosa entre israelitas e palestinianos, desde 1947 até 1994. As datas são marcantes por duas razões: em 1947 foi fundado um colégio de orfãos palestinianos, que ainda hoje funciona, onde Rula Jebreal/Miral foi criada; e 1994 corresponde ao ano em que Rula Jebreal deixou a Palestina.

O arco temporal confere uma dimensão histórica que o filme não alcança, porque muitos dos factos são evocados com um objectivo meramente cronológico, servindo apenas para assinalar o contexto das personagens - exemplo disso, as imagens documentais que ilustram esses momentos foram montadas sem qualquer ligação estética, como separadores que não influenciam o fio narrativo.

Acresce que "Miral" está carregado de boas intenções sublinhadas da pior forma: valoriza quatro papéis femininos para mostrar como as mulheres são as maiores vítimas do conflito, mas só faz justiça à personagem principal; pretende ser um hino à coabitação pacífica entre israelitas e palestinianos mas as personagens são maniqueístas; Schnabel teve o previlégio de filmar em Israel e na Palestina, mas os locais são indiferentes na história.

A costela judia de Schnabel impeliu-o a assumir este projecto e pode ter adensado alguns equívocos. O realizador descurou, pela primeira vez, o retrato da personagem central da sua narrativa e isso faz com que "Miral" seja um filme frio e falhado, onde falta a emoção humana excessiva das outras obras. 

Crítica de Tiago Alves actualizado às 12:20 - 21 junho '11
publicado 00:54 - 18 junho '11

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