24 Jan 2017 23:02

Pergunta de algibeira:

— 2017 será recordado como o ano em que "La La Land", de Damien Chazelle, obteve 14 nomeações para os Oscars, igualando o recorde de "All About Eve" (1950) e "Titanic" (1997)?
— ou ficará na história como o ano em que "Silêncio", de Martin Scorsese, se ficou por… uma única nomeação (fotografia)?
Mesmo que não partilhemos os mais fortes entusiasmos por "La La Land", há que reconhecer que o filme de Chazelle está a conseguir reavivar uma certa apetência pelo género musical que pode vir a ter muito interessantes consequências industriais e comerciais. Em todo o caso, que dizer do facto de o invulgar desafio formal e filosófico de Scorsese ser reduzido a um dispensável objecto "técnico"?
Lembremos, de qualquer modo, três vectores que podem suscitar estimulantes reflexões:

1. Celebração dos independentes *. Com mais ou menos apoio de distribuição dos grandes estúdios, os nove nomeados para melhor filme relançam e, de alguma maneira, renovam um certo conceito de produção independente que se traduz na escolha de temas pouco comuns ou, então, na elaboração de narrativas de assinalável ousadia formal.
* Exemplo: "Manchester By the Sea" prova que é possível relançar as intensidades do clássico melodrama familiar — e Casey Affleck parece ser o vencedor "obrigatório" do Oscar de melhor actor.

2. Superação dos maniqueísmos ideológicos *. Bem sabemos que os últimos anos foram atravessados por polémicas (por vezes francamente simplistas) em torno da representatividade das minorias, em particular dos afro-americanos. A questão parece ultrapassada, muito em particular porque as políticas da Academia de Hollywood têm sabido favorecer a diversidade no interior da sua própria estrutura.
* Exemplo: "Moonlight", de Barry Jenkins, é um extraordinário retrato de dramas da comunidade afro-americana que nunca cede a nenhuma lógica banalmente panfletária.

3. Forte presença de actores e actrizes. Mais uma vez, as categorias de interpretação são fortíssimas, mostrando que o cinema (dito) dos efeitos especiais não se esquece do valor essencial do factor humano — os intérpretes continuam a ser fundamentais na relação dos filmes com os espectadores.
* Exemplo: a extraordinária densidade de talentos nas nomeadas para melhor actriz secundária — Viola Davis ("Vedações"), Naomie Harris ("Moonlight"), Nicole Kidman ("A Longa Estrada para Casa"), Octavia Spencer ("Elementos Secretos") e Michelle Williams ("Manchester By the Sea").
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Nota: Fica a incógnita de Jimmy Kimmel. Porque é que a Academia escolheu para apresentador da 89ª cerimónia dos Oscars um nome tão pouco conhecido da maioria dos espectadores fora dos EUA? Talvez, precisamente, para reconquistar audiências no mercado interno… A 26 de Fevereiro poderemos perceber melhor.
  • cinemaxeditor
  • 24 Jan 2017 23:02

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