Roman Bilyk e Teo Yoo: memórias do rok na URSS do começo dos anos 80

10 Mai 2018 18:15

Na noite de quarta-feira, a equipa do filme russo "Leto" (= "Verão"), em competição no Festival de Cannes, subiu a escadaria do Palácio dos Festivais exibido um enorme cartão com um nome: Kirill Serebrennikov. É o nome do seu realizador, ausente da Côte d’Azur por se encontrar em prisão domiciliária em Moscovo.

A defesa da liberdade de Serebrennikov tem sido uma das bandeiras desta edição de Cannes (inclusive com o apoio de entidades do governo francês, que tentaram que as autoridades russas permitissem ao realizador estar presente no festival). Aliás, será inevitável sublinhar os ecos simbólicos que o próprio filme fornece: este é o retrato, directo e exuberante, da cena rock de Leninegrado, no começo da década de 1980, numa afirmação de criatividade que deparava com as interdições do próprio sistema político.




Estamos, assim, numa época de alguns discretos sinais da Perestroika e, obviamente, vários anos antes da Queda do Muro de Berlim. Evocando as lições de Led Zeppelin ou David Bowie, a odisseia das figuras verídicas Viktor Tsoi (Teo Yoo) e Mike Naumenko (Roman Bilyk) constitui, afinal, uma ferida aberta num universo rigorosamente vigiado — especialmente eloquente é a enérgica cena de abertura, num concerto de Naumenko em que os espectadores não se podem levantar das cadeiras, sendo mesmo proibida a amostragem de um cartão com o desenho de um… coração.
Apoiando-se no sofisticado talento dos seus actores — destaque ainda para Irina Starshenbaum, intérprete da mulher de Naumenko —, Serebrennikov faz um filme que tem as virtudes e os limites de uma evocação mais ou menos "panfletária". "Leto" é um objecto simples, de emoções contagiantes, além do mais tirando o melhor partido de uma magnífica fotografia a preto e branco (da responsabilidade de Vladislav Opeliants), aqui e ali pontuada por um "bloco-notas" a cores.
  • cinemaxeditor
  • 10 Mai 2018 18:15

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