John Cena e Aaron Taylor-Johnson em


joao lopes
23 Jun 2017 0:26

Chegou às salas portuguesas aquele que ficará, por certo, como um dos mais brilhantes títulos do Verão cinematográfico de 2017. Não, não é um "blockbuster" com heróis mais ou menos galácticos e efeitos especiais que alguma imprensa confunde com uma marca específica do grande espectáculo… Nem sequer custou muitas centenas de milhões de dólares, de modo a que outra imprensa (a mesma?) reduza o amor do cinema a uma questão de contabilidade.

De acordo com a respectiva ficha publicada na Wikipedia, "O Muro" ["The Wall"] custou mesmo a quantia ridícula de 3 milhões de dólares, isto no interior de uma indústria em que as produções médias dos grandes estúdios implicam, no mínimo dos mínimos, orçamentos dez vezes maiores… O certo é que esta realização de Doug Liman o faz regressar, com raro brilhantismo, ao minimalismo dos seus primeiros tempos — lembremos, em particular, o seu magnífico "Go" (que entre nós teve o lamentável título "A Vida Começa às 3 da Manhã").
"O Muro" encena a guerra no Iraque através de uma contenção contagiante: dois soldados americanos (Aaron Taylor-Johnson e John Cena) cumprem uma missão de reconhecimento numa zona de construção de um oleoduto, sendo atacados por um sniper (Laith Nakli)… De tal modo que ficam imobilizados num espaço restrito do deserto em que um velho muro a desfazer-se surge como o único refúgio plausível.
Através da sábia combinação da concentração física da acção com um subtil tratamento psicológico das personagens — em particular Isaac, o soldado interpretado pelo excelente Taylor-Johnson — Liman constrói uma parábola moral sobre a guerra em que o absurdo da violência emerge como um estranho revelador das diferenças e semelhanças entre inimigos. Em última instância, "O Muro" é um objecto através do qual a América é confrontada com uma verdade interior da guerra que, de facto, quase nunca cabe nos formatos televisivos de informação.

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