Que memórias do Estado Novo?
Salazar e Carmona:
revisitando o nosso passado

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Que memórias do Estado Novo?

Revisitar o nosso passado é também uma via essencial para lidar com o presente: "Fantasia Lusitana", de João Canijo, propõe-se reavaliar imagens (e sons) do regime salazarista

Tantas vezes reduzidas à facilidade do cliché (político, moral, etc.), as memórias do Estado Novo estão aí... Que é como quem diz: é preciso revisitá-las para, com elas e através delas, lidarmos também com o nosso presente. "Fantasia Lusitana", de João Canijo, é um filme que nasce desse desejo de voltar a olhar o passado — e, em particular, de o fazer através do material eminentemente cinematográfico que são os "jornais de actualidades" da época.

O filme concentra-se, muito em particular, nas décadas de 1930/40, durante o período de consolidação do poder de António de Oliveira Salazar (com Óscar Carmona na Presidência da República). Perante os sinais muito concretos da Segunda Guerra Mundial, o regime adoptou uma posição oficial de "neutralidade" que se traduziu, no plano do imaginário popular, no favorecimento de todo um aparato ideológico — fantasioso, no dizer do título —, tendente a promover a imagem de um Portugal "feliz" e "próspero".

O filme evoca tudo isso num tom "descritivo" que, por vezes, corre o risco do maniqueísmo mais ou menos pitoresco. O certo é que, ao fazê-lo, tem o mérito de nos convocar para uma revisitação das nossas próprias imagens (e sons), procurando construir um olhar, e favorecer um entendimento, que vá para além dos estereótipos televisivos que tantas vezes enquadram a sua difusão.

Além do mais, a opção de incluir na banda sonora a leitura de alguns textos de estrangeiros que, nessa época, passaram por Portugal consegue um efeito tão desconcertante quanto perturbante: o de criar um contraponto entre os olhares interiores de Portugal e a visão "atípica" de alguém que chegava do estrangeiro.


 


Poster de «Fantasia Lusitana»

FANTASIA LUSITANA

Documentário sobre a relação do povo português com os estrangeiros refugiados da segunda guerra mundial. A forma como a sua estadia no nosso país influenciou o nosso olhar sobre a guerra, e uma procura pela herança cultural deixada pela sua passagem.

De João Canijo; Documentário; 64m; M/12; POR; 2010

>Ouça a crítica de João Lopes


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