"Tabu", de Miguel Gomes: um prémio da Berlinale, outro da crítica internacional
Festival
"Rafa" e "Tabu": os símbolos de Berlim
Dois prémios para portugueses num dos mais importantes festivais da Europa (e do mundo): eis uma proeza que importa valorizar, sem a confundir com a resolução automática dos problemas de fundo do cinema português.
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Cinema Português
"Rafa", de João Salaviza, ganha Urso de Ouro
Filme português recebe prémio máximo na competição de curta-metragens. Miguel Gomes consta do palmarés final com prémio de inovação.
Convenhamos que não é coisa que aconteça todos os dias... Uma pequena cinematografia, a portuguesa, consegue dois prémios num dos mais importantes festivais da Europa (e do mundo).
Assim, na Berlinale, "Rafa", de João Salaviza, obteve a distinção máxima (Urso de Ouro) na área das curtas-metragens, enquanto "Tabu", de Miguel Gomes, recebeu o prémio Alfred Bauer, para o filme mais inovador ("Tabu" obtivera já o prémio FIPRESCI).
Acima de tudo, este reconhecimento envolve um valor simbólico que importa voltar a sublinhar: o cinema português continua a ser um dos principais cartões de visita culturais do nosso país, conseguindo uma implantação e um prestígio pouco comum em qualquer área de actividade (artística ou não).
Não se trata, entenda-se, de proclamar filmes "bons" contra filmes "maus". E é bom que cada espectador cultive o gosto de pensar pela sua cabeça... Trata-se, isso sim, de reconhecer que algum cinema português, mesmo no seu regionalismo mais fundo, consegue superar fronteiras e mercados.
E os dois filmes premiados são, de facto, eminentemente particulares: "Rafa" porque dá a ver uma realidade suburbana indissociável das nossas cidades (no que prolonga "Arena", também de Salaviza); "Tabu" porque arrisca revisitar as memórias contraditórias do nosso tempo colonial.
Esperemos, sobretudo, que a importância destas distinções não seja confundida com uma resolução automática dos muito problemas estruturais e financeiros da produção cinematográfica portuguesa. E esperemos também que "Rafa" e "Tabu" não esperem demasiado tempo para chegarem onde devem estar: as salas de cinema.
Acima de tudo, este reconhecimento envolve um valor simbólico que importa voltar a sublinhar: o cinema português continua a ser um dos principais cartões de visita culturais do nosso país, conseguindo uma implantação e um prestígio pouco comum em qualquer área de actividade (artística ou não).
Não se trata, entenda-se, de proclamar filmes "bons" contra filmes "maus". E é bom que cada espectador cultive o gosto de pensar pela sua cabeça... Trata-se, isso sim, de reconhecer que algum cinema português, mesmo no seu regionalismo mais fundo, consegue superar fronteiras e mercados.
E os dois filmes premiados são, de facto, eminentemente particulares: "Rafa" porque dá a ver uma realidade suburbana indissociável das nossas cidades (no que prolonga "Arena", também de Salaviza); "Tabu" porque arrisca revisitar as memórias contraditórias do nosso tempo colonial.
Esperemos, sobretudo, que a importância destas distinções não seja confundida com uma resolução automática dos muito problemas estruturais e financeiros da produção cinematográfica portuguesa. E esperemos também que "Rafa" e "Tabu" não esperem demasiado tempo para chegarem onde devem estar: as salas de cinema.
por João Lopes
publicado 01:40 - 19 fevereiro '12