5 Set 2022 17:22

O histórico julgamento de 1985 contra a junta militar que governou a Argentina de 1976 a 1983 está no centro de "Argentina, 1985", que recebeu críticas positivas no sábado após ser exibido no Festival Internacional de Veneza, onde compete pelo Leão de Ouro.

Para a sua quinta longa-metragem, o argentino Santiago Mitre regressou a este período negro da história do seu país, seguindo os passos do procurador Julio Strassera, interpretado por Ricardo Darin, e do seu assistente, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani).

"Ainda me lembro do dia em que Strassera leu a acusação: a comoção no tribunal, a emoção dos meus pais, as ruas finalmente capazes de celebrar algo que não era um jogo de futebol, a ideia de justiça como um acto de cura", explicou Santiago Mitre, vencedor em 2015 do Grande Prémio da Semana da Crítica no Festival de Cinema de Cannes com "Paulina".

A maior parte do filme não tem lugar na sala do tribunal, mas concentra-se na génese do julgamento e nos obstáculos enfrentados pelos investigadores, confrontados com ameaças contra si próprios e contra os seus entes queridos.

"Esta história tocou-me profundamente e fez-me querer fazer um filme sobre justiça (…) baseado em factos que realmente aconteceram", disse o realizador.

O humor e a zombaria nunca estão longe nesta obra que tem o cuidado de não fazer dos seus protagonistas heróis, quando se sabe que a maioria do país permaneceu passiva sob a ditadura. "Não há heróis", diz o Procurador Strassera diante da esposa.

Os testemunhos das vítimas relatando os horrores sofridos, em particular o de uma mulher obrigada a dar à luz algemada no carro dos seus torturadores, são chocantes.

Segundo as organizações de direitos humanos, cerca de 30 mil pessoas desapareceram sob a ditadura argentina. 400 bebés nascidos em cativeiro foram ilegalmente entregues a outras pessoas, segundo a organização Avós da Plaza de Mayo, que luta pelos desaparecidos.

Desde o reinício dos julgamentos da ditadura em meados dos anos 2000 – após mais de uma década de medidas e leis de amnistia controversas – mais de mil pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade.

No início de Julho, o poder judicial argentino condenou 10 antigos militares e polícias a prisão perpétua por homicídio, rapto, tortura e violação.

  • AFP
  • 5 Set 2022 17:22

+ conteúdos