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Reinventando a herança de Julie Andrews

Os estúdios Disney continuam a refazer os seus clássicos. Agora é a vez de "O Regresso de Mary Poppins", 54 anos depois do original — uma tarefa difícil, mas executada com competência q. b.

Reinventando a herança de Julie Andrews
"O Regresso de Mary Poppins": Emily Blunt sob o signo de Julie Andrews
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 Reinventando a herança de Julie Andrews
O Regresso de Mary Poppins Em “O Regresso de Mary Poppins”, da Disney, uma sequela musical nova e original, Mary Poppins regressa para ajudar a nova geração da família Banks a descobrir a alegria e encanto perdido, devido a uma perda pessoal. Emily Blunt (“Um Lugar Silencioso”; “A Rapariga no Comboio”) protagoniza a ama quase perfeita com habilidades mágicas, que pode tornar qualquer tarefa numa aventura fantástica e ...

Convenhamos que nunca seria fácil, muito menos automático, transpor o clássico "Mary Poppins" (1964) para o século XXI. Afinal de contas, este não é apenas um símbolo da aliança figurativa de actores e desenhos animados (então, lembremos, um dispositivo raro). Há também nele uma espécie de testamento simbólico, uma vez que foi a derradeira grande produção dos estúdios Disney ainda supervisionada pelo seu criador, Walt Disney (1901-1966).

O menos que se pode dizer de "O Regresso de Mary Poppins", realizado por Rob Marshall (o cineasta consagrado, em 2003, com o musical "Chicago"), é que há no filme a sobriedade suficiente para não embarcar em grandes transformações mais ou menos "modernistas". Estamos, afinal, perante um objecto serenamente conservador — entenda-se: capaz de prolongar uma tradição que vive, antes do mais, do culto do trabalho de estúdio.

Será que Emily Blunt, no papel da ama que possui poderes mágicos e reaparece para cuidar da família Banks, tem o mesmo charme e versatilidade de Julie Andrews na versão de 1964? Isto sem esquecer que ela ganhou aí o único Oscar da sua carreira... Enfim, digamos que há uma diferença de grau que não será estranha à visceral teatralidade da performance de Andrews, sempre orientada para o trabalho de sedução da câmara.

Ainda assim, importa sublinhar que Blunt, em particular, e "O Regresso de Mary Poppins, em geral, conseguem reinventar uma herança em que o impulso fantasista nasce, não de uma ostentação gratuita da tecnologia, antes de uma requintada elaboração coreográfica. Nesse aspecto, aliás, Marshall, formado no teatro da Broadway, parece-me sempre mais competente do que nas especificidades da realização.

Registe-se, enfim, o lugar particular de "O Regresso de Mary Poppins" no actual plano de produção dos estúdios Disney. Por um lado, está em curso um leque de "repetições" de clássicos da animação, agora com actores de carne e osso — de pois de títulos como "A Bela e o Monstro" (2017), "Dumbo" é uma das novidades agendadas para 2019; por outro lado, esta renovada experiência com actores & animação pode dar origem a uma diversificação que tenha também algo de revitalização. São questões tanto mais importantes no comércio do cinema quanto, no mercado global, os estúdios Disney detêm um poder imenso de produção e difusão.

Crítica de João Lopes
publicado 23:27 - 19 dezembro '18

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