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Retratos de uma família paulista
que não entra na novela
O novo filme de Walter Salles distingue-se no panorama audiovisual brasileiro.






TOPO:
Foto de família e Cleuza, a mãe solteira (Sandra Corveloni).
MEIO:
Reginaldo (Jesus Santos), o irmão mais novo, passa o dia em autocarros procurando o pai motorista; Dário (Vinicius de Oliveira) joga futebol mas já atingiu os 18 anos sem o estatuto de profissional, o que é um drama num país onde os miúdos fazem longas filas nos treinos de captação dos clubes.
BAIXO:
Dênis (João Baldasserini), é um pai prematuro e ausente; Dinho (José Geraldo Rodrigues) procura na religião o conforto para os problemas da adolescência.
Foto de família e Cleuza, a mãe solteira (Sandra Corveloni).
MEIO:
Reginaldo (Jesus Santos), o irmão mais novo, passa o dia em autocarros procurando o pai motorista; Dário (Vinicius de Oliveira) joga futebol mas já atingiu os 18 anos sem o estatuto de profissional, o que é um drama num país onde os miúdos fazem longas filas nos treinos de captação dos clubes.
BAIXO:
Dênis (João Baldasserini), é um pai prematuro e ausente; Dinho (José Geraldo Rodrigues) procura na religião o conforto para os problemas da adolescência.
Para o melhor e para o pior o cinema brasileiro que adquire dimensão internacional (e que vai estreando nas salas portuguesas) parece condicionado pelo sucesso de "Cidade de Deus", o filme de Fernando Meirelles. Desde então surgiram diversos filmes que dramatizam eventos ocorridos em meios violentos e pobres ("Tropa de Elite", "Carandiru", "Autocarro 174").
Em "Linha de Passe", Walter Salles, em parceria com Daniela Thomas, contrariou essa lógica, mesmo tendo filmado na fonteira da favela, esse território que domina a paisagem de um certo cinema brasileiro - será exagerado falar do sub-género filme favela? Este filme acontece num bairro pobre da grande metrópole que é São Paulo mas foca personagens oriundas de um meio operário.
O seu olhar neo-realista, distinto no actual cinema brasileiro, é interessado pela paisagem urbana, atroz, asfixiante e triste. Os planos da cidade, com os seus habitantes ,são um elemento decisivo no fluxo narrativo.
A sensibilidade de Walter Salles leva-o a valorizar a dimensão humanista das personagens, como tinha feito anteriormente com Dora, a professora reformada de "Central do Brasil", que acompanhou um menino em busca do seu pai, e com Che, que moldou a sua identidade ideológica na pobreza da América Latina em "Diários de Motocicleta".
Nesta galeria entra agora Cleuza - Sandra Corveloni interpretou-a com uma naturalidade desarmante e merecedora do prémio de melhor actriz na mais recente edição do festival de Cannes - uma mãe solteira que procura manter a famíia à superfície.
"Linha de Passe" é um filme de grandes personagens, com uma densidade que contrasta de forma gritante com as figuras baças da telenovela, o género mais produzido e distribuido da indústria audiovisual brasileira. É bom constatar que do Brasil chegam outras narrativas que contrariam o realismo postiço das telenovelas. E que não alinham na moda dos dramas violentos encenados segundo uma lógica de telejornal tablóide.
LINHA DE PASSE
De Walter Salles, Daniela Thomas
com Sandra Corveloni, João Baldasserini, Vinícius de Oliveira
Drama
108m
M/16
Brasil
2008
Ouça entrevista de Tiago Alves a Walter Salles e Daniela Thomas