Eric Rohmer: a subtileza das imagens, a moral das palavras

25 Dez 2021 23:04

Sobre Eric Rohmer (1920-2010), não nos podemos esquecer que, antes de se afirmar como um dos nomes essenciais da Nouvelle Vague, ele foi também um dos críticos mais sofisticados do panorama francês — escreveu mesmo um estudo sobre o "Fausto", de Murnau, e em colaboração com Claude Chabrol um livro sobre Hitchcock. Talvez por isso, aliás, sem dúvida também por isso, o seu cinema dá especial atenção ao valor das palavras e à sensualidade da fala — vale a pena rever o trailer de "A Minha Noite em Casa de Maud" (1969).

 


São as presenças de Jean-Louis Trintignant e Françoise Fabian naquele que é um dos títulos fulcrais da obra de Rohmer. Em "A Minha Noite em Casa de Maud", eles protagonizam uma espécie de equação amorosa em que não é fácil separar os desejos das personagens daquilo que são os modos de dizer esses desejos — ou se quisermos, a moral das palavras. Afinal de contas, o filme pertence a uma série intitulada “Seis Contos Morais”.
Dir-se-ia que se trata de traçar o ziguezague entre os movimentos da razão e os imponderáveis da emoção. Os “Contos Morais”, incluindo "A Coleccionadora" (1967) ou "O Joelho de Claire" (1970), são variações sobre isso mesmo. Tal como outros filmes que não pertencem a nenhuma série, mas que existem como prolongamentos dos temas obsessivos de Rohmer. "O Raio Verde" (1986), por exemplo, símbolo de um cinema minimalista marcado pelos contrastes de uma certa ambiência romântica, quase jazzística — lembremos o tema "Only You", composto por Samuel ‘Buck’ Ram.
 


Depois de “Seis Contos Morais”, para lá dos seus títulos soltos, Rohmer construiu mais algumas séries de filmes, incluindo “Comédias e provérbios” e “Contos das 4 Estações”. Mas foi também um experimentador, tirando partido dos novos cenários digitais: assim aconteceu com "A Inglesa e o Duque" (2001), uma visão subtil e irónica da Revolução Francesa em que as personagens habitavam um tempo de curiosa ambiguidade: os ambientes eram virtuais, mas em pano de fundo escutavam-se os cânticos revolucionários das convulsões históricas do final do século XVIII.
 

  • cinemaxeditor
  • 25 Dez 2021 23:04

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