M. Night Shyamalan durante a rodagem de

26 Dez 2021 22:19

O filme que M. Night Shyamalan lançou em 2021, "Old", recebeu entre nós um sugestivo subtítulo: "Presos no Tempo". Apetece dizer que todas as principais personagens de Shyamalan são prisioneiros do tempo, no sentido em que não podem escapar a qualquer coisa de inelutável e inquietante — qualquer coisa quase impossível de verbalizar, qualquer coisa que só se pode dizer sussurrando, como um segredo…

“I see dead people”, “Vejo pessoas mortas” — a frase é dita por Haley Joel Osment, em diálogo com Bruce Willis, naquela que é a cena mais famosa de "O Sexto Sentido", filme que continua a ser o maior sucesso da carreira de Shyamalan. Foi em 1999, Shyamalan tinha 29 anos e, como muitos outros jovens criadores de Hollywood, procurava uma via para desenvolver as suas ideias. O impacto de "O Sexto Sentido", de uma só vez comercial e cultural, valeu-lhe o epíteto de renovador do género de terror. Na verdade, a classificação tinha qualquer coisa de insuficiente e até inaqueado: Shyamalan era, continua a ser, alguém que procura lidar com um factor visceral, o medo, conferindo-lhe uma nova dimensão poética. Eis um tema musical revelador de tal dimensão…

 


Esta música tem assinatura de James Newton Howard e pertence ao filme que Shyamalan lançou em 2006, "A Senhora da Água", com Bryce Dallas Howard, objecto bem revelador do seu gosto pela dimensão de fábula que o cinema pode explorar. Digamos, para simplificar, que esta é a aventura de uma figura de fantasia (a “senhora da água”, precisamente) que está acidentalmente entre os humanos, tentando regressar à própria história que é a sua pátria. Como se as personagens das histórias que lemos e vemos viessem visitar o nosso mundo…

O cinema de Shyamalan é feito dessa estranheza de tudo parecer normal e tudo poder estar à beira da decomposição material ou espiritual. Shyamalan encena tal misto de inquietação e fascínio no supense de "A Vila" (2004), ou no terror clássico de "A Visita" (2015). Mas foi logo após "O Sexto Sentido" que ele expôs o modo como a sua paixão pelo mistério não pode ser dissociada do mundo da banda desenhada: "Unbreakable", entre nós "O Protegido", tinha tanto de surrealismo como de nostalgia — uma nostalgia que encontrava a sua pontuação musical no clássico "Midnight Rider", dos Allman Brothers, uma memória de 1970.

 

  • cinemaxeditor
  • 26 Dez 2021 22:19

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