Sidney Lumet, um liberal nova iorquino
Homenagem: o realizador Sidney Lumet com o Oscar honorário na 77ª cerimónia dos prémios da Academia em 2005 (Foto: Robert Galbraith, Reuters)

Obituário  

Sidney Lumet, um liberal nova iorquino

Morreu um autor atento ao mundo e que confrontava o espectador com a sua consciência.

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"12 Homens em Fúria" Trailer do primeiro filme realizado por Sidney Lumet em 1957.

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"Antes Que o Diabo Saiba Que Morreste" Trailer do último filme realizado por Sidney Lumet em 2007.

O cinema norte-americano de tradição liberal, atento à realidade, firme nos seus valores, empenhado em denunciar a corrupção e o preconceito, perdeu um dos seus maiores autores. Sidney Lumet, morreu com 86 anos de idade, com um linfoma.

O New York Times recorda uma frase de Lumet que dá sentido a esa ideia: "os filmes pretendem entreter, mas o tipo de cinema em que acredito vai mais além. Obriga o espectador a enfrentar a sua própria consciência, a estimular a sua inteligência".

Fiel a essa linha, o cineasta realizou alguns dos filmes ditos liberais do cinema norte-americano. Dramas criminais e policiais, muito popularizados na década de 70 do Século passado. "Serpico" (1973), "Um Dia de Cão" (1975), "Escândalo na TV" (1976), "O Príncipe da Cidade" (1981) e "O Veredicto" (1981), são alguns exemplos.

A sua longa carreira no cinema começou em 1957, com "12 Homens em Fúria", um filme de tribunal onde Henry Fonda interpretava um homem isolado nas suas convicções sendo o único jurado de um julgamento que acreditava na inocência do acusado.

Lumet tinha 33 anos. O drama tornou-se num sucesso de crítica e público, e continua a ser uma das melhores estreias de um cineasta em Hollywood, já que foi nomeado para quatro Oscars, incluindo os de Melhor Filme e Realizador.

Durante 60 anos de actividade o realizador superou os 40 filmes e revelou ser um autor diverso, capaz de realizar filmes com tema ou obras mais populares.

Aventurou-se com sucesso no policial romanesco, filmando "Um Crime no Expresso do Oriente" (1973), a partir da obra de Agatha Christie; mas também experimentou a comédia policial em "Negócio de Família" (1989), e o género musical através de "O Feiticeiro" (1978), uma versão do "Feiticeiro de Oz, com Diana Ross e Michael Jackson.

Os actores e os prémiosLumet trabalhou com os melhores actores de Hollywood como Al Pacino, Henry Fonda, Paul Newman, Joanne Woodward, Marlon Brando, Katharine Hepburn, Jason Robards, Rod Steiger, Sean Connery, Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Robert Duvall, William Holden, Andy García ou Albert Finney.

É recordado como alguém que apurava bastante a composição das suas personagens, o que é confirmado pelo facto de 17 actores que dirigiu terem sido nomeados ou premiados com Oscars.

Já o realizador nova-iorquino não teve a mesma sorte. Recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da sua carreira, atribuído em 2005, mas nunca ganhou o prémio das quatro vezes em que foi nomeado para o Oscar de Melhor Realizador - isso aconteceu com "Doze Homens em Fúria", "Um Dia de Cão", "Escândalo na TV" e "O Veredicto".

Apesar dos seus filmes terem somados mais de 40 nomeações da Academia em diversas catergorias, a sua relação com Hollywood era distante - o actor não filmava nos estúdios de Los Angeles e preferia as ruas de Nova Iorque, a cidade onde escolhia, meticulosamente, os cenários dos seus dramas.

O seu último filme, "Antes Que o Diabo Saiba Que Morreste" (2007), foi justamente celebrado como um regresso à sua melhor forma. É uma tragédia familiar actual, sobre falsidades e golpadas, contando com excelentes desempenhos de Ethan Hawke, Marisa Tomei e Philip Seymour Hoffman.

Nascido em Filadélfia, em 1924, filho de um actor e de uma bailarina, Sidney Lumet faleceu de linfoma, sábado, 9 de Abril, na cidade de Nova Iorque, onde morava desde sempre.

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publicado 23:36 - 10 abril '11

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