Javier Mendo, actor central de


joao lopes
3 Set 2017 2:33

Cinema espanhol?… Pedro Almodóvar… E que mais? Pois bem, há muito mais. De vez em quando, de modo mais ou menos inesperado, vamos descobrindo sinais dispersos da(s) diferença(s) que importa conhecer. Um dos exemplos recentes foi "A Academia das Musas" (2015), de José Luis Guerín. Outro, agora chegado às salas escuras, é "A Mãe" (2016), de Alberto Morais, projecto a que está ligado o produtor português Paulo Branco, através da sua empresa francesa Alfama Films.

É relativamente simples resumir o que está em jogo. Tudo se passa em torno de Miguel (Javier Mendo), um adolescente que vive, ou melhor, sobrevive entre uma mãe (Laia Marull) que não consegue reunir meios para o sustentar e uma marginalidade que ele próprio assume, já que não quer regressar para a instituição de acolhimento a menores onde passou algum tempo; daí que aceite um trabalho, em que é brutalmente explorado, de modo a conseguir protecção de um emigrante romeno (Ovidiu Crisan) que, por sua vez, o obriga a pagar uma dívida que resulta da relação da sua mãe com ele…




Cinema social? O rótulo é sedutor e convenhamos que seria precipitado recusá-lo automaticamente. Miguel emerge, de facto, como expressão individual de uma crise que, como bem sabemos, começando pelas dificuldades financeiras, abalou (e abala) os modos de vida das sociedades europeias e, em particular, o funcionamento e valores do espaço familiar. Em todo o caso, convém não atrairmos simbolismos simplistas, típicos de algumas emissões televisivas de cariz "sociológico".

Aquilo que faz a força do filme de Alberto Morais não é o seu "simbolismo", mas a irredutibilidade de todas as personagens. Adoptando um método de filmagem a que apetece chamar quase documental, o cineasta mantém a sua câmara colada aos (notáveis) actores, num intimismo com os corpos e olhares que talvez possamos filiar nas matrizes desenvolvidas, na Bélgica, pelos irmãos Dardenne. "A Mãe" é, em última instância, um objecto capaz de nos fazer ver e sentir o social como uma dinâmica colectiva, imperfeita e interminável, em que se jogam todos os destinos individuais.

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