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Temas sociais "vs." linguagem cinematográfica

O filme "Sombra" parte de uma evocação do desaparecimento de uma criança, em Lousada, corria o ano de 1998 — infelizmente, um filme é mais do que o seu tema (ou então não é um filme).

Temas sociais vs. linguagem cinematográfica
Ana Moreira interpreta a personagem da mãe em "Sombra"
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 Temas sociais vs. linguagem cinematográfica
Sombra Em 1998, Isabel tinha a família perfeita até que um dia chega a casa e descobre que o seu filho de 11 anos desapareceu. A partir desse momento tudo muda. Apesar da cobertura mediática do caso e da existência de um suspeito, a justiça falha constantemente e Isabel percebe que somente ela poderá manter viva a busca por Pedro. Passam-se 15 anos e apesar de todos os obstáculos que encontra, Isabel ...

Infelizmente, não há muito a dizer sobre um filme como "Sombra". Ou melhor, o que há para dizer tem pouco a ver com cinema.

Ao inspirar-se no chamado ‘Caso Rui Pedro’ — isto é, no desaparecimento nunca esclarecido de um menino de 11 anos, em Lousada, corria o ano de 1998 —, o filme assume-se como bandeira de uma causa social que, aliás, se explicita no final: o genérico faz um inventário de crianças desaparecidas e contém uma dedicatória para as respectivas famílias.

Dito isto, "Sombra" apresenta-se profundamente limitado pelas respectivas opções narrativas. Desde logo, porque o tratamento dramático das situações, além de profundamente esquemático, está servido por diálogos também eles esquemáticos e redundantes. Depois, porque tais características limitam drasticamente o trabalho dos actores — independentemente do talento particular que cada um deles possa ter, são todos conduzidos a um “overacting” que se torna redundante e, por fim, soa a falso.

Enfim, a gestão dos tempos narrativos revela-se inoperante, de tal modo predominam os tempos "dilatados", sem qualquer pertinência dramática — como se prolongar arbitrariamente um plano fosse uma automática intensificação dramática, esquecendo o valor essencial, não do tempo, mas da duração.

Enfim, o que faz um filme não são as suas causas, por mais respeitáveis que possam ser — como é o caso. "Sombra" é mesmo um sintoma de uma moda mediática, cinematográfica e televisiva, hoje em dia triunfante. Ou seja: valorizar os temas, banalizando a linguagem.

Crítica de João Lopes
publicado 17:46 - 15 outubro '21

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