Estreias
Três contos morais do Japão
Mais um belo filme do japonês Ryûsuke Hamaguchi que chega às salas portuguesas: "Roda da Fortuna e da Fantasia" reune três histórias autónomas, recuperando o modelo do "filme-por-episódios".
O cinema de Hamaguchi parte dos factos e aparências do quotidiano
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Roda da Fortuna e da Fantasia
O novo filme de Ryûsuke Hamaguchi é composto por três histórias: um inesperado triângulo amoroso, uma armadilha de sedução falhada e um encontro que resulta de um mal-entendido – um delicioso tríptico sobre o amor no Japão moderno, entre o imprevisível e as coincidências.
Depois de uma sessão fotográfica, Meiko, modelo profissional, escuta a amiga Tsugumi a descrever-lhe o homem por quem está apaixonada — Meiko pressente que se trata do seu próprio namorado...
A jovem Nao dirige-se ao gabinete do professor Segawa para o confrontar com as palavras eróticas de um dos seus livros — na verdade, Nao está a tentar funcionar como agente de vingança do seu amigo Sasaki que não esquece a humilhação a que Segawa o sujeitou...
Tendo como pano de fundo uma crise informática global, revelando documentos pessoais de milhões de pessoas, Natsuko reencontra uma companheira dos tempos do liceu — a certa altura, descobre que está a falar com a pessoa errada...
Dir-se-ia que são histórias parcelares de uma história mais geral sobre o misto de transparência e equívoco, revelação e máscara, que as relações humanas podem envolver. Na verdade, são mesmo ficções autónomas: com "Roda da Fortuna e da Fantasia", o cineasta Ryûsuke Hamaguchi recupera o "velho" modelo do filme por episódios, propondo três contos morais que são outras tantas deambulações por formas de relacionamento singularmente japonesas.
Nada de "sociologia" de bolso, entenda-se. Hamaguchi não submete personagens e situações a quaisquer padrões normativos, sejam eles sociais, sejam dramáticos. O que mais conta aqui é a existência de cada ser humano como um mistério "andante" que se expõe, mas também se oculta, através das palavras que troca com o seu semelhante — este é um cinema precioso em que a naturalidade dos comportamentos pode envolver também os seus maiores enigmas.
Crítica de João Lopes
publicado 00:00 - 18 dezembro '21