Crítica: "Banksy Pinta a Parede!"
Tudo o que podíamos não saber sobre Bansky e o fenómeno da arte urbana
Já não bastam as paredes, nem as galerias de arte rendidas. O mais conhecido artista urbano do momento chegou ao cinema. O documentário "Banksy - Pinta a Parede" que venceu em Sundance e foi nomeado para os Oscars, desvenda mais sobre a arte de rua e quem a consome.
Para os seguidores do trabalho de Banksy a premissa de um filme com a assinatura do artista é desde logo motivo de curiosidade. Mas o documentário tem outros alvos e rapidamente desvia as atenções do rapaz de Bristol, para se concentrar num outro protagonista.
Thierry Guetta, cujo o nome na praça é Mr. Brainwash, fornece conteúdo dramático e garante a dose de humor que uma obra para ver em cinema pode reclamar. Foi ele que na viragem para o novo século se dispôs a filmar os protagonistas da arte urbana, tornando-se testemunha e cúmplice, e angariando um património precioso, com imagens inéditas da criação de uma arte fugaz e frágil, como são as paredes dos edifícios urbanos em constante mudança.
Mas foi também ele que se tornou artista do dia para a noite, e já não segue ninguém com a câmara, mas com os artigos e as peças que assina e que são em muitos casos inspirações ou cópias de outros. A desmontagem deste sucesso feito à pressa permite no entanto um olhar mais abrangente do que o pequeno e por vezes patético Mr. Brainwash.
O tom de denúncia pode parecer até certo ponto uma retaliação, neste caso de Banksy, uma espécie de modelo a seguir por parte de Brainwash. Mas é seguramente um manifesto sobre o estado da arte urbana, na viragem decisiva de passar das ruas para dentro das galerias, à boleia do trabalho e do mediatismo conquistado por Banksy.
Deste lado de cá da tela, não podemos ficar indiferentes ao processo que permite a um desconhecido tornar-se artista de milhões de dólares. O público também é responsável pelo fenómeno.
Banksy ainda não mostrou a cara ao mundo, mas vai mostrando do que é feito. Nas paredes, nas cidades, em peças que atacam o sistema, nas inscrições políticas em zonas de conflito como a Faixa de Gaza, ou agora no cinema.
O documentário que assina é também uma subversão. Resiste à tentação de contar a sua própria história, preferindo mostrar nos outros, artistas e público, como pode contar-se a história da arte que se faz nas ruas.
Na Internet multiplicam-se as teses sobre a possibilidade do protagonista do filme não ser mais do que uma nova criação de Banksy, uma personagem para dar corpo e cara ao sentido critico do autor. Se assim fosse, seria a genialidade total, mas perante a falta de provas para sustentar tal teoria, é mais seguro defender que o filme tem um ponto de vista estimulante, a narrativa certa e o timing perfeito.