Estreias
Um cineasta chamado Paul Schrader
Mais, muito mais, do que o argumentista de "Taxi Driver", Paul Schrader é um dos grandes realizadores do último meio século do cinema americano — está de volta com "The Card Counter", protagonizado por Oscar Isaac.
Paul Schrader e Oscar Isaac durante a rodagem de "The Card Counter"
Trailer/Cartaz/Sinopse:
The Card Counter: O Jogador
Um antigo interrogador dos serviços secretos militares torna-se um jogador de poker assombrado por fantasmas de decisões passadas.
Eis uma pequena colecção de cinco perguntas de algibeira:
— quem escreveu o argumento de "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese?
— quem dirigiu Richard Gere em "American Gigolo" (1980), conferindo-lhe estatuto de estrela?
— quem voltou a trabalhar com Scorsese, nos argumentos de "Touro Enraivecido" (1980) e "A Última Tentação de Cristo" (1988)?
— quem assinou a realização de "A Felina" (1982), remake do clássico de terror "A Pantera" (1942), de Jacques Tourneur?
— quem teve a sua primeira nomeação para um Oscar, em 2019, aos 73 anos de idade, graças ao argumento de "No Coração da Escuridão" (que também realizou)?
As cinco respostas reduzem-se a um só nome: Paul Schrader.
Ele está, de facto, na linha da frente de meio século de história do cinema americano, mas raras vezes é reconhecido, não apenas através da importância do seu trabalho, mas até pela simples extensão da sua filmografia — mais de duas dezenas de realizações, incluindo ainda, por exemplo, "Mishima" (1985), "O Rapto de Patty Hearst" (1988) e "Auto Focus" (2002), este último um retrato de uma figura lendária da história da televisão americana (Bob Crane) que nunca chegou às salas portuguesas.
Voltamos a encontrar a sua maestria em "The Card Counter", lançado entre nós com o subtítulo "O Jogador": um retrato íntimo de um jogador de cartas que transporta consigo as memórias cruéis da sua missão, como militar, no Iraque, mais precisamente na prisão de Abu Ghraib.
"The Card Counter" é, como o título diz, um contador de cartas, quer dizer, alguém que, durante o poker, se habituou a contar as cartas que vão saindo, de modo a controlar o mais possível as possibilidades de ganhar o jogo. Através da sua odisseia, Schrader desenha, no fundo, uma parábola visceralmente americana: o contador de cartas é aquele que tenta redimir-se da violência que protagonizou, procurando uma pureza que o destino talvez não possa garantir-lhe. Estamos, assim, perante um filme que combina a crónica intimista com a parábola política, tudo servido por uma “mise en scène” de insuperável rigor.
Aspecto que, mais do que nunca, importa sublinhar é a notável composição de Oscar Isaac no papel central. Na verdade, as desventuras vividas no meio dos efeitos visuais mais ou menos ruidosos de "Star Wars" (no papel de Poe Dameron) estão muito longe de dar visibilidade aos seus dotes de representação.
Tal como acontece em "The Card Counter", ele é um actor capaz de expor a vulnerabilidade de uma personagem [video], aparentemente apresentando-a como alguém que controla em absoluto os seus actos e respectivas consequências. Este é, afinal, um filme sobre um homem em luta com um jogo em que faltam sair alguns trunfos — nas cartas e no labirinto dos desejos humanos.
As cinco respostas reduzem-se a um só nome: Paul Schrader.
Ele está, de facto, na linha da frente de meio século de história do cinema americano, mas raras vezes é reconhecido, não apenas através da importância do seu trabalho, mas até pela simples extensão da sua filmografia — mais de duas dezenas de realizações, incluindo ainda, por exemplo, "Mishima" (1985), "O Rapto de Patty Hearst" (1988) e "Auto Focus" (2002), este último um retrato de uma figura lendária da história da televisão americana (Bob Crane) que nunca chegou às salas portuguesas.
Voltamos a encontrar a sua maestria em "The Card Counter", lançado entre nós com o subtítulo "O Jogador": um retrato íntimo de um jogador de cartas que transporta consigo as memórias cruéis da sua missão, como militar, no Iraque, mais precisamente na prisão de Abu Ghraib.
"The Card Counter" é, como o título diz, um contador de cartas, quer dizer, alguém que, durante o poker, se habituou a contar as cartas que vão saindo, de modo a controlar o mais possível as possibilidades de ganhar o jogo. Através da sua odisseia, Schrader desenha, no fundo, uma parábola visceralmente americana: o contador de cartas é aquele que tenta redimir-se da violência que protagonizou, procurando uma pureza que o destino talvez não possa garantir-lhe. Estamos, assim, perante um filme que combina a crónica intimista com a parábola política, tudo servido por uma “mise en scène” de insuperável rigor.
Aspecto que, mais do que nunca, importa sublinhar é a notável composição de Oscar Isaac no papel central. Na verdade, as desventuras vividas no meio dos efeitos visuais mais ou menos ruidosos de "Star Wars" (no papel de Poe Dameron) estão muito longe de dar visibilidade aos seus dotes de representação.
Tal como acontece em "The Card Counter", ele é um actor capaz de expor a vulnerabilidade de uma personagem [video], aparentemente apresentando-a como alguém que controla em absoluto os seus actos e respectivas consequências. Este é, afinal, um filme sobre um homem em luta com um jogo em que faltam sair alguns trunfos — nas cartas e no labirinto dos desejos humanos.
Crítica de João Lopes
actualizado às 19:35 - 19 novembro '21
publicado 19:09 - 19 novembro '21