Bérénice Bejo sob a direcção de Asghar Farhadi: atribulações da vida conjugal
Cannes dia 3: LE PASSÈ
Um divórcio visto por dentro
Asghar Farhadi, o cineasta iraniano que conhecemos através de "Uma Separação" está de volta com mais um filme centrado na vida de um casal: como o título sugere, "Le Passé" analisa o presente a partir da herança do passado.
Trailer/Cartaz/Sinopse:
Le Passé – The Past
O drama, segue a história de um homem iraniano (Ali Mosaffa) que tem problemas de longa data com a sua mulher francesa (Bérénice Bejo) e que a deixa com duas crianças para voltar à sua terra natal. Nesse período, a sua mulher começa a encontrar-se com um homem francês (Tahar Rahim) e escreve-lhe uma carta a pedir-lhe o divórcio...
Média Cinemax:
3.667
O cineasta iraniano Asghar Farhadi é, por certo, um criador obsessivo. Lembram-se de "Uma Separação", o título com que ele ganhou o Festival de Berlim de 2011? Era a história de um casal cuja estabilidade estava dramaticamente posta em causa pela necessidade de tomar decisões drásticas na organização da sua vida... Pois bem, o novo filme de Farhadi, "Le Passé", na competição de Cannes, é a história de um casal que tenta consumar o seu divórcio...
Enfim, importa relativizar. Claro que detectamos aqui a permanência de um olhar que se interessa, antes de tudo o mais, pela complexidade das relações humanas. Em todo o caso, a força imensa do cinema de Farhadi não provém de uma qualquer abstracção "sociológica", mas sim do modo como leva até às últimas consequências a desmontagem de tudo aquilo (verdade & mentira) que aproxima ou afasta as suas personagens.
No caso de "Le Passé", a teia é tanto mais enredada quanto nos remete para o passado que o título refere e, sobretudo, para as coisas ocultas que forma minando aquelas relações. Sendo um cinema de confrontos emocionais, este é também um universo de riquíssima relação com os actores, aqui, tal como em "Uma Separação", todos excelentes, com inevitável destaque para Bérénice Bejo (nossa conhecida do oscarizado "O Artista").
Ponto a ter em conta: não só esta é a história de um casal formado por um iraniano (Ali Mosaffa) e uma francesa (Bejo), como estamos perante uma das muitas produções deste certame a que a França está associada. São reflexos de uma estratégia que, para além de todas as contradições ou desequilíbrios, continua a fundamentar-se num salutar conceito de ultrapassagem de fronteiras e alargamento de conceitos de produção.
por João Lopes
publicado 01:14 - 18 maio '13