Estreia: "48"
Um mergulho nas estórias da ditadura portuguesa
Uma semana antes do 25 de Abril estreia em Portugal "48", a longa-metragem da cineasta Susana Sousa Dias, um documentário que retrata de uma forma original os 48 anos de ditadura vividos em Portugal.
Depois de "Natureza Morta", vencedor do Prémio Atalanta para Melhor Documentário Português no Doc Lisboa em 2005, a realizadora Susana Sousa Dias voltou ao período histórico do Estado Novo para falar de antigos prisioneiros da polícia do regime de Salazar, a PIDE.
Usando as fotografias de cadastro dos prisioneiros políticos e confrontando-os com as suas memórias, Susana Sousa Dias, de uma forma arrojada e nada convencional, agarra a nossa atenção através dos depoimentos dos entrevistados - ficamos presos às vozes, ao som e aos silêncios que por vezes são mais constrangedores do que as palavras.
A realizadora Susana Sousa Dias sentiu durante "o período de investigação e nas conversas com os ex–presos políticos que havia outra história que podia ser contada, e desde o inicio que o objetivo foi tomar como ponto de partida as fotografias, e apesar das dúvidas que fizeram parte do processo criativo o som era absolutamente fundamental, nunca se vê o rosto, mas ouvimos as pessoas e estávamos permanentemente a sentir as pessoas”
"48"estreou no Doc Lisboa em 2010 e ao longo deste período o documentário já arrecadou seis prémios destacado-se o do júri FIPRESCI no Dok Leipzig, na Alemanha, o Grande Prémio do Cinema du Réel, em França, e o prémio Opus Bonum para Melhor Documentário Mundial no Festival Internacional do Filme Documentário de Jihlava, na República Checa.
Para a historiadora Irene Pimentel "o filme tem efeitos quer sobre as pessoas que são filmadas, quer sobre os espetadores, além de dar uma realidade através de sensações... é aí que o cinema é uma arte extraordinária e tem a sua diferença".
"48" aposta numa linguagem inovadora e deixa ao espectador espaço para pensar através das fotografias que refletem essa mudança.
Um filme que resgata um passado recente vivido nos anos de ditadura em Portugal. Irene Pimentel reforça: "para as novas gerações é fundamental saber que há muito pouco tempo em Portugal as pessoas que pensavam de outra maneira, que queriam outro tipo de modelo para a sociedade portuguesa, eram presas por uma ditadura que não deixava ninguém pensar de maneira diferente".
Irene Pimentel relembra que viu o filme no Doc Lisboa em 2010. "No final houve um silêncio muito grande e só depois é que houve um grande aplauso… não foi imediato". O documentário "48" é sem dúvida um filme para ser visto na escuridão do cinema, na cumplicidade do olhar entre o espectador e o filme… um verdadeiro mergulho nas Estórias da ditadura portuguesa.