Seidi Haarla e Yuri Borisov: uma finlandesa e um russo enredados nas incertezas do destino

11 Jul 2021 1:37
Conhecíamos o finlandês Juho Kuosmanen de "O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki" (2016), retrato de um pugilista do seu país que combinava a curiosidade psicológica com uma utilização algo formalista da fotografia a preto e branco. Ele surge agora na secção competitiva de Cannes com "Compartiment nº 6", filme que tem a vantagem de se abrir à complexidade psicológica das suas personagens principais, em particular Laura (Seidi Haarla), a finlandesa que empreende uma longa viagem de comboio para conhecer os tesouros arqueológicos de Murmansk, no noroeste da Rússia.

Em boa verdade, o filme pode definir-se como uma crónica romanesca dessa viagem, em grande parte vivida no compartimento/cama que o título refere. Acontece que Laura tem que partilhar o espaço com Ljoha (Yuri Borisov), um russo que vai para o mesmo destino, misturando o seu desencanto pelo trabalho que vai assumir com doses pouco moderadas de álcool… Ou como as relações humanas envolvem sempre um misto de consciência prática e arbitrariedade existencial.

"Compartiment nº 6" ilustra um dispositivo muito na moda, não poucas vezes limitado por estereótipos dramáticos e morais. A saber: a personagem que se desloca para um destino precário, na sua odisseia sendo compelida a reavaliar toda a sua história pessoal… Felizmente, neste caso, Kuosmanen tem o bom senso de preferir as singularidades da própria viagem a qualquer sobrecarga "simbólica", produzindo um conto moral sempre em aberto, incerta e envolvente — sem esquecer a fundamental contribuição dos dois intérpretes principais.

  • cinemaxeditor
  • 11 Jul 2021 1:37

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