Isabelle Huppert à escuta: uma agente policial pouco ortodoxa...


joao lopes
26 Set 2021 0:44

O novo filme com Isabelle Huppert intitula-se, no original, "La Daronne", palavra difícil de traduzir, envolvendo a noção de patroa e também uma certa pose maternal, mais ou menos autoritária. Em inglês, chamaram-lhe "Mama Weed", o que sugere que a mamã em causa trafica algum tipo de erva/droga…

Enfim, esta realização de Jean-Paul Salomé chega-nos agora com o título português "Agente Haxe", confirmando alguma relação com o haxixe… Em qualquer caso, o factor dramaticamente determinante é a condição de "agente" da personagem central. Que é como quem diz: Huppert interpreta uma funcionária da polícia que se vai envolvendo nos circuitos que ajuda a descobrir e desmantelar…

Digamos que os trocadilhos que se adivinham, embora com evidentes potencialidades cómicas, seriam insuficientes para sustentar uma longa-metragem, mesmo quando o seu objectivo pouco mais é do que explorar a sua paradoxal ironia. Há, ainda assim, uma componente que introduz um ligeiro toque de "suspense": é que a "patroa" trabalha como tradutora — vêmo-la a escutar as gravações dos suspeitos, garantindo as traduções dos respectivos diálogos para os detectives da polícia.
Escusado será dizer que o filme vale, sobretudo, pela presença (nunca rotineira) de Huppert. Ela é, de facto, uma actriz que possui o gosto da transfiguração, sem nunca fazer disso um factor de ostentação. Em filmes melhores ou piores, Huppert trabalha para servir o filme, não a sua "imagem" pessoal — e isso merece todo o respeito e admiração.

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