20 Mai 2022 9:41

Depois de Ingmar Bergman e Lars von Trier, uma nova geração de cineastas escandinavos está no centro das atenções, com nada menos do que três realizadores a disputar a Palma de Ouro em Cannes este ano.

O sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro em 2017 com "A Praça", está de volta no próximo sábado com "Triangle of Sadness". O seu compatriota Tarik Saleh e o dinamarquês Ali Abbasi estão em competição pela primeira vez.

Para Claus Christensen, editor-chefe da revista especializada Ekko, o cinema nórdico, e particularmente as produções suecas e dinamarquesas, têm em comum o facto de "empurrarem os limites da linguagem cinematográfica", uma das razões do seu forte apelo.

"Há esta missão para de entreter mas também, por vezes, de desafiar o público", diz à AFP.

Em 2018, Ali Abbasi, cineasta dinamarquês, ganhou o prémio Un Certain Regard em Cannes com "Border", uma fantasia sobre uma funcionária do serviço de fronteiras deformada.

Na altura, já tinha planos para fazer "Holy Spider". Filmado na Jordânia, porque as condições de filmagem no Irão impedem a completa liberdade criativa, a sua terceira obra segue a história de uma jornalista que investiga um assassino em série numa cidade sagrada iraniana.

Antes, dirigiu alguns episódios da nova série da HBO "The Last of Us", baseada num jogo de vídeo de sucesso, prova da variedade de interesses cinematográficos e da flexibilidade da sua geração.

Perspectivas de outros lugares

Para Tarik Saleh, nascido em Estocolmo há 50 anos de uma mãe sueca e um pai egípcio, o multiculturalismo é uma componente crucial do seu trabalho cinematográfico, tal como o é para Francis Ford Coppola e Milos Forman.

Ser um imigrante de segunda geração deu-lhe a perspectiva de desdobrar a história de "Walad Min Al Janna" (título internacional, "Boy from Heaven"). "Estás tanto por dentro como por fora, e esse é também o papel do realizador (…) observar as semelhanças e as diferenças".

Ser de fora foi também essencial para a realização de um filme, pelo qual os seus colegas egípcios teriam sido "atirados para a cadeia", diz à AFP.

Filmado em árabe, tal como o seu "The Nile Hilton Incident", vencedor do prémio Sundance em 2017, o thriller segue um rapaz pobre que ganhou uma bolsa de estudo para a prestigiada Universidade Al-Azhar do Cairo e se vê atraído por um drama político com tons religiosos.

Ali Abbasi, proveniente da classe média alta iraniana, está desejoso de não ser catalogado, mas acredita que a origem social tem frequentemente precedência sobre a origem geográfica. "Trazes uma bagagem, uma cor de pele, um género. Mas estas coisas não são tão importantes como algumas pessoas pensam, são mais fluidas em relação a uma coisa: a classe social", assegurou ao Politiken em 2018.

As reflexões sobre as classes sociais são também parte importante do trabalho de Ruben Östlund, 48 anos, o mais conhecido dos três directores escandinavos em competição. Com "Triangle of Sadness", oferece uma sátira sobre o mundo da moda e dos super-ricos, obcecados pela aparência.

Antes de "A Praça", apenas duas produções suecas tinham sido galardoadas com a Palma de Ouro. A Dinamarca, por outro lado, recebeu dois troféus supremos, nomeadamente com "Dancer in the Dark", de Lars von Trier, em 2000.

Dois outros filmes nórdicos, o norueguês "Sick of Myself" de Kristoffer Borgli e o dinamarquês "Godland" de Hlynur Pálmason, estão presentes em Cannes, na secção Un Certain Regard.

A 75.ª edição do Festival de Cannes começou esta terça-feira e decorre até 28 de maio.

  • AFP
  • 20 Mai 2022 9:41

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