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Veneza, dia 1: Natalie Portman brilhano ballet-thriller de Aronofsky
Um festival raramente começa com um grande filme. A noite de abertura desta edição de Veneza é uma excepção à regra
Dançar em pontas pode ser um pesadelo? O filme de Darren Aronofsky transmite bem cedo essa sensação de desconforto ao filmar os pés esticados de Nina (Natalie Portman), ou seguindo, através de uma câmara desamparada e frenética, os seus movimentos durante um ensaio para conseguir o papel principal numa nova representação de "O Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky.
O jovem realizador Darren Aronofsky (geração de 1969) regressou a Veneza com "Black Swan", um filme sobre a violência psicológica e física a que um bailarino pode estar sujeito para consolidar um gesto, um movimento e afimar a sua forma de expressão artística.
Se consideramos que se trata de uma actividade solitária e que exige enorme esforço físico, podemos admitir que estamos perante um prolongamento de "O Wrestler", com Mickey Rourke, o filme que valeu o Leão de Ouro a Darren Aronofsky - dois anos depois o realizador ressurge em Veneza, tendo a honra de inaugurar o festival.
Mas "Black Swan" tem uma dimensão psicológica que não existia em "O Wrestler", assumindo o pesadelo decorrente da mutação da identidade de uma artista sujeita às solicitações do director artístico, à reacção do público ou ao empenho que a mãe colocou naquela carreira.
É o papel mais marcante de Natalie Portman, uma actriz que ainda não tinha tido um argumento capaz de tirar partido de todo o seu talento. Este desempenho deve assegurar-lhe a primeira nomeação para um Oscar de actriz principal.
"Black Swan"é um filme original sobre o bailado profissional e que garantiu um excelente início deste festival de Veneza, elevando as expectativas em relação aos restantes filmes da selecção oficial.
>Ouça a crítica de Tiago Alves
por Tiago Alves
publicado 10:17 - 18 janeiro '11