28 Ago 2014 0:08

O mexicano Alejandro G. Iñarritu mudou de género, trocando o drama ("Babel", "21 Gramas", "Biutiful") pela comédia negra, ao abordar a história de um ator que na fase final da sua carreira investe dinheiro e talento encenando e representando uma novela de Raymond Carver num palco de um teatro da Broadway, em Nova Iorque.

Este ator foi e continua a ser reconhecido pelo papel de Birdman, um super herói de um seriado produzido em Hollywood. Ele vive atormentado pelo sucesso que teve com essa personagem, desejando claramente voltar a ter popularidade mas através de um papel mais relevante. 

O filme é uma citação do percurso do próprio Michael Keaton. O ator ficou célebre pelo desempenho de Batman na série realizada por Tim Burton e que iniciou uma era na produção regular de filmes de ação com super heróis de novelas gráficas.

E tal como sucedeu com Michael Keaton, hoje há uma série de atores talentosos que são mais reconhecidos pelos seus papéis de super heróis do que pelos seus desempenhos com qualidade de representação – Robert Downey Jr., James McAvoy, Hugh Jackman…

 
"Birdman" aborda as divergências habituais entre arte e entretenimento, atores e celebridades, teatro e cinema, numa época em que as redes sociais são um meio determinante para a popularidade de um ator.

Alejandro G. Iñarritu encena esta história num espaço teatral mas assumindo uma perspetiva cinematográfica, optando por filmar em longos planos sequência que colocam os atores dentro e fora de uma mesma cena contínua. O filme foi rodado em 30 dias, obrigando a uma marcação rigorosa dos movimentos de câmara, dos tempos de interpretação, da iluminação e utilização de adereços. 

O encadeamento dos longos planos visuais fluídos, concebidos em parceria com o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, cria a ilusão de que o filme foi todo rodado num único plano sequência.

O virtuosismo serve uma história clássica nos bastidores do teatro e do cinema, mostrado que os efeitos visuais mais sofisticados podem ter um efeito maravilhoso numa produção mais pequena. 

Curiosamente, "Birdman", um filme que suspende o espectador numa sequência visual contínua, foi exibido na noite de abertura do festival de Veneza um ano depois da projeção de "Gravidade", de Alfonso Cuarón, um filme que transportava o espectador para outra dimensão e que incluía um plano sequência de 14 minutos.
Além desta coincidência vale a pena registar uma outra: ambos os filmes são realizados por autores que renovaram o cinema mexicano e que agora, em Hollywood, estão a encontrar formas interessantes de colocar a tecnologia ao serviço da história.
"Birdman" será um título incontornável na próxima temporada de prémios, devendo somar algumas nomeações para os Oscares nas categorias principais de realização, filme, ator e fotografia.
  • cinemaxeditor
  • 28 Ago 2014 0:08

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