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Veneza, dia 3: Cage off limits
Não há como um grande actor em boa forma para animar um festival. O mau polícia de Nicolas Cage teve esse efeito.
As mãos enchem-lhe a cara, os olhos saltam de órbita, a cabeça tem mobilidade em relação ao corpo, ele parece mais alto do que é e ocupa as cenas todas.
Nicolas Cage tem uma presença física alucinada e inquieta em "Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans" e o segredo para conseguir esse desempenho está na pose dos ombros. Werner Herzog sugeriu-lhe que os baixasse, pedindo para levantar sempre as mãos à frente do corpo e puxar a cabeça de modo a apontar com os olhos.
Um grande desempenho para um actor notável e que tem desperdiçado talento em filmes de grande produção. Não o víamos assim desde "Morrer e Viver em Las Vegas", onde estava consumido pelo álcool, mas esse era um desempenho realista, este é mais off limits (do seu corpo e não só...).
"Bad Lieutenant", o remake do "Polícia Sem Lei" de Abel Ferrara, destaca-se na selecção oficial graças ao actor e à visão de Herzog.
O cineasta germânico abraçou pela primeira vez o policial fazendo um filme negro à medida deste tempo. Nova Orleães, ainda destroçada pela passagem do Katrina, é um cenário para uma obra que reflecte o mal estar social provocado pela actual conjuntura económica.
O realizador tem uma excelente noção dos espaços que filma e utiliza o lado mágico e sombrio da cidade para adensar o lado surreal deste retrato humano.
A partir de hoje há o "Polícia Sem Lei" de Harvey Keitel/Ferrara e este polícia sem lei de Cage/Herzog.
por Tiago Alves
publicado 18:29 - 04 setembro '09