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Veneza, dia 3: lost in transition
O cinema narcisista e familiar de Sofia Coppola volta a compreender personagens perdidas e o tempo que vivemos
O Festival de Veneza acolheu com entusiasmo "Somewhere", o quinto filme de Sofia Coppola, onde uma estrela de Hollywood questiona a sua existência vazia e o seu estatuto de celebridade através do convívio com a filha.
Johnny Marco (Stephen Dorf), actor popular e divorciado, leva um estilo de vida veloz e furioso: conduz o seu Ferrari, habita no histórico Hotel Chateau Marmont, em Los Angeles, marca presença em festas e seduz parceiras sexuais de ocasião.
O filme retrata esta personagem desvairada através de longos planos e de cenas com diálogos mínimos. Mas a sátira assume tons de melodrama quando Johnny passa uma temporada mais longa com Cleo (Elle Fanning), a sua filha de 11 anos, e percebe como a sua vida é vazia.
O relacionamento entre pai e filha ressurge como tema central, à semelhança do que tinha sucedido com as personagens de Scarlett Johanson e Bill Murray em "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", o filme perfeito da realizadora.
De certo modo Sofia Coppola regressou a uma zona de conforto, um território familiar - Los Angeles, Hollywood, o tédio do meio das estrelas de cinema que levam uma existência alienada.
O seu cinema narcisista compreende bem estas figuras desorientadas e enredadas nos seus labirintos emocionais. Perdidas, transitando entre algo, ou seja, lost in transition.
Progredindo com elas, a realizadora consegue ser muito verdadeira com a vida e com o tempo em que vivemos. Definitivamente, Sofia Coppola não anda nada perdida e sabe o caminho que trilha.

por Tiago Alves
publicado 10:17 - 18 janeiro '11