5 Set 2017 0:49

Depois de uma ausência de 8 anos, a realizadora argentina Lucrécia Martel está de volta com "Zama", adaptação de uma nova escrita em 1957, passada no século XVIII, numa pequena cidade do Paraguai colonizada por Espanha.

Mais de uma dezena de produtores entre os quais a El Deseo de Pedro Almodóvar e a Som e a Fúria do português Luís Urbano, juntaram esforços para fazer um filme de época, com um orçamento de cerca de 2 milhões e 800 mil euros.

"Zama", é um olhar sobre o passado, sobre as relações de poder entre as colónias e a Coroa, e sobre a ambição por parte dos habitantes locais de uma vida à moda de uma Europa idealizada como um sonho.

Há ainda uma outra participação portuguesa no filme, o diretor de fotografia Rui Poças, que não foi escolhido por imposição da participação portuguesa, mas foi uma escolha pessoal da realizadora.

Depois de "A Mulher sem Cabeça", Lucrécia Martel esteve associada à adaptação de um comic argentino passado no futuro, mas que não chegou a concretizar-se.

Na conversa em Veneza, admite que a pesquisa sobre cidades e expedições e a ideia de contar uma história no futuro, abriu caminho para "Zama": "o que podemos contar sobre o passado é tão inventado, mesmo o passado mais dogmático e documental depende do poder de quem escreve a história, por isso achei que fazer um filme histórico implicava a mesma liberdade de fazer uma ficção."

Na história, Don Diego de Zama é um funcionário da Coroa, que aguarda a carta que poderá levá-lo para outras paragens e enquanto espera vai perdendo todas as oportunidades, de negócio, de posição e até mesmo de sexo.

Lucrécia misturou vários elementos, desde a investigação sobre expedições, passando pela vivência do mundo rural, até ao contexto atual da América do Sul, para construir uma sátira social, e um olhar crítico sobre a necessidade de viver sobre a influência da Europa.

A realizadora acredita que ainda hoje a Argentina tem uma ideia da Europa como uma espécie de idade de ouro que não é verdadeira, que não é real. No filme, a determinada altura, Zama usa uma frase com que a avó da realizadora elogiava o continente longínquo: a neve que elegante!

Para o produtor Luís Urbano, as questões da colonização e da descoberta do novo mundo, justificavam o interesse em fazer parte do projeto, com uma participação de cerca de 100 mil euros.

Luís Urbano explica ainda que faz parte de uma espécie de sindicatos de realizadores, da Europa e da América do Sul, que se entreajudam para fazer chegar as salas filmes mais ambiciosos, mas também mais difíceis de financiar, porque não estão em linha com as regras do mercado do cinema, ou seja, não são feitos a pensar na rentabilidade, mas por outros imperativos.

"Zama", tem estreia prevista em Portugal para Maio de 2018, na presença de Lucrécia Martel, e da atriz lola Dueñas, que está radicada em Portugal e vive nos arredores de Lisboa.

  • cinemaxeditor
  • 5 Set 2017 0:49

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