Um muro estatístico que ainda divide a Alemanha

por Andreia Martins
Reuters

Na Alemanha reunificada, as regiões da antiga RDA são ainda hoje mais fracas economicamente e apresentam níveis mais elevados de desemprego. São as inferioridades estatísticas de um antigo país que viu a sua economia crescer exponencialmente ao longo da primeira década pós-reunificação, mas que o tempo ainda não apagou por completo.

O colapso da União Soviética e o fim da “Cortina de Ferro” assinalados simbolicamente com a queda do Muro de Berlim, há 25 anos, não colocou um ponto final definitivo nas fortes discrepâncias económicas e sociais entre o espaço anteriormente detido por aliados e a região que a URSS controlava.

Num inquérito recente feito aos habitantes das regiões o Leste, 75 por cento considerou que a reunificação foi estabelecida com sucesso. Quando a mesma pergunta foi feita a todos os alemães, apenas metade faz uma avaliação positiva. Os estudos recentes revelam que os alemães de Leste ganham menos dinheiro, diferença que acaba por ser diretamente recompensada devido aos preços mais baixos, na generalidade dos produtos e serviços. Mas desde os dados económicos mais relevantes até às diferenças mais infímas, as marcas de duas realidades díspares ainda são visíveis.
Oeste envelhecido

O país-motor da União Europeia bem se pode orgulhar de apresentar uma das taxas de desemprego mais baixas da Europa (a rondar os 6 por cento). Mas o mesmo não acontece se voltarmos a erguer uma cortina de ferro e isolarmos o Leste da Alemanha, que apresenta uma taxa de 10,3 de desemprego, bastante acima do número global mas que, ainda assim, se mantém abaixo da média comunitária.

Se, pela primeira vez desde a queda da União Soviética, o saldo migratório do espaço da antiga RDA registou valores positivos em 2013, muitos foram os ossis que já partiram, - em grande parte jovens com níveis de formação elevados. A preocupante tendência de duplo envelhecimento demográfico (a diminuição dos jovens e o aumento simultâneo do número de idosos) é ainda mais acentuada na região oeste, um efeito profundamente acelerado pela abertura do muro e o fluxo migratório para o Ocidente no início dos anos 90. Em 2030, 33 por cento da população das regiões oeste em 2030 terá mais de 65 anos.
País a duas velocidadesÉ o próprio ministério do Interior alemão que lança anualmente um estudo em que faz o balanço da reunificação do país. O relatório "State of German Unity" regista, entre outros campos, o resultado dos esforços ocidentais no equilíbrio das contas do país. Desde 1991 que a Alemanha anteriormente dividida pelos aliados do ocidente paga um imposto de "solidariedade", um sacrifício que já destinou à antiga RDA mais de 1,6 triliões de euros - valor essencialmente destinado aos salários da função pública e as pensões. O plano de reestruturação, que está previsto pelo Governo alemão até 2019, custava em 2010 cerca de três por cento do PIB alemão.




A transformação económica com investimento e reconstrução de edifícios acelerou os motores da Alemanha comunista, que com a unificação passou também a integrar a União Europeia, mas as transformações económicas e sociodemográficas ainda não lhe permitiram, ao fim de 25 anos, acompanhar o crescimento e o contributo para o Produto Interno Bruto que as regiões de leste dão ao país – cuja economia se pode comparar aos valores registados em economias do sul da Europa como Espanha e Itália, segundo os dados do grupo alemão KfW. Relativamente a este indicador específico, a contribuição das regiões Leste é claramente inferior aos valores totais registados do lado ocidental.

Nas próximas décadas, este grupo bancário prevê investir na reconstrução e recuperação de edifícios e infra-estruturas desatualizadas. E acrescenta que o crescimento exponencial do PIB per capita nestas zonas particulares da Alemanha constituem um novo “milagre económico”, em certa medida até superior à estrondosa recuperação económica da Alemanha no pós-Segunda Guerra Mundial. Reconhecem as diferenças económicas existentes mas reiteram que “nenhum país está completamente equilibrado”, independentemente do seu passado histórico.
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