"Apartheid climático". ONU prevê divisão acentuada entre ricos e pobres

por RTP
A crise climática afetará direitos básicos como o acesso à água potável, a alimentação e a habitação Craig Borrow - Reuters

Um novo relatório da ONU sugere que a crise climática poderá criar um “apartheid climático”, ameaçando Direitos Humanos e afetando maioritariamente os países em desenvolvimento. Diz ainda que a democracia estará em risco, dado que a desigualdade e a exclusão social aumentarão, o que poderá dar origem a respostas xenófobas e nacionalistas.

Um novo relatório elaborado por Philip Alston, relator especial  da ONU para a pobreza extrema e os Direitos Humanos, declara que o mundo está em risco de enfrentar um "apartheid climático" e que "os Direitos Humanos podem não sobreviver à próxima perturbação". 

O documento, que será apresentado no Conselho dos Direitos do Homem, em Genebra, afirma que os Direitos Humanos poderão não sobreviver. A crise climática afetará direitos básicos como o acesso à água potável, a alimentação e a habitação, mas Alston diz também que a crise afetará direitos políticos e civis – em última instância, a democracia e o Estado de Direito estão em risco.
Um possível "apartheid climático"
"O risco de descontentamento da comunidade, a desigualdade crescente e até os níveis significativos de privação entre alguns grupos estimularão provavelmente respostas nacionalistas, xenófobas e racistas", disse Alston.



Desta forma, poderá criar-se uma divisão mais acentuada – os que serão mais afetados pela crise climática são os mais pobres, enquanto os mais ricos terão capacidade para escapar ao aquecimento global e à fome. As alterações climáticas ameaçam assim "desfazer o progresso dos últimos 50 anos no desenvolvimento, saúde global e redução da pobreza".

De facto, o relatório estima que 75 por cento dos custos da crise climática serão suportados pelos países em desenvolvimento, apesar de os países mais pobres serem os que causam apenas dez por cento das emissões de dióxido de carbono.

"Esta oportunidade deve servir como um catalisador para os Estados cumprirem os direitos económicos e sociais há muito ignorados, incluindo a segurança social e o acesso à alimentação, saúde, abrigo e trabalho digno".
Inércia de atores políticos
Alston dirige fortes críticas a líderes como o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por "silenciarem ativamente" a ciência climática. O relator critica também o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por querer explorar a Amazónia.

Dirige outras críticas à inércia dos tratados internacionais climáticos, que se têm demonstrado ineficazes.

Por último, aponta as ações "inadequadas" das próprias Nações Unidas, por não reconhecerem a crise climática como um problema central e por não entenderem que os Direitos Humanos de milhões de pessoas seriam gravemente ameaçados. E ainda por ações "desproporcionais à urgência e magnitude da ameaça".






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