Clima. Costa vincula Portugal a memorando da Califórnia contra Trump

por Carlos Santos Neves - RTP
A adesão de Portugal ao memorando <i>Under 2 coalition</i> foi anunciada por António Costa após uma reunião com o governador da Califórnia, Jerry Brown Nuno Veiga - Lusa

Foi à saída de um encontro com o governador da Califórnia, Jerry Brown, que António Costa deu como selada a adesão de Portugal ao memorando Under 2 Coalition, documento subscrito por 17 Estados norte-americanos que contraria as políticas da Administração Trump em matéria ambiental. O primeiro-ministro colocou a tónica no “cumprimento das metas do Acordo de Paris”.

Durou hora e meia, segundo a agência Lusa, a reunião entre o governante português e Jerry Brown, figura destacada do flanco democrata nos Estados Unidos que se candidatou por três vezes à nomeação presidencial do partido: em 1978, 1982 e 1992, contra Jimmy Carter e Bill Clinton.

Concluído o encontro, António Costa falou de uma “comunhão de valores”.Costa associou o memorando encabeçado pela Califórnia aos objetivos do Acordo de Paris, já descartado pelo atual Presidente norte-americano.


“Podemos contar com Jerry Brown numa comunhão de valores, não só em Portugal, mas também na Europa, em torno de desafios como o combate às alterações climáticas e na promoção de energias limpas. Queremos o cumprimento das metas do acordo de Paris e pretendemos até superá-las”, sustentou o primeiro-ministro, que teceu elogios a Brown, governador de um Estado que “é a quinta economia mundial”.

“Jerry Brown é seguramente um dos políticos norte-americanos que tem uma visão mais próxima sobre os grandes desafios que nós temos de enfrentar", afirmou o chefe do Governo.

Por sua vez, o governador da Califórnia destacou a conferência internacional que terá lugar em São Francisco a 12 de setembro e que partirá do memorando Under 2 Coalition.

“A Califórnia tudo fará para reduzir as emissões de gases com efeito estufa. Temos de nos unir contra os efeitos do aquecimento global. O que estamos a fazer não é suficiente”, vincou Jerry Brown.

A adesão de Portugal ao memorando é conhecida a menos de duas semanas de uma nova deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa aos Estados Unidos, a 26 e 27 de junho, durante a qual o Presidente da República vai ser recebido, em Washington, por Donald Trump.
“Dentro do Acordo de Paris”

Insistindo na defesa do Acordo de Paris para o combate às alterações climáticas, o primeiro-ministro quis sublinhar que, “mesmo cumprindo todos os objetivos” aí inscritos, o mundo ficará “aquém daquilo que é considerado essencial”.

“É preciso que os portugueses, os europeus e todo o mundo saibam que nós, os americanos, queremos estar dentro do acordo de Paris. Fizemos uma aliança entre 17 Estados norte-americanos para apoiar esse acordo. Estamos a fazer o possível para reduzir as emissões de gases poluentes”, afirmaria ainda Jerry Brown.

“Queremos galvanizar o mundo para fazermos mais no combate às alterações climáticas. Temos de investir em tecnologias limpas. Este é um desafio global e que tem de ter resposta também global”, acentuou.

Na antecâmara de uma reunião com a autoridade responsável pela prevenção e pelo combate a incêndios na Califórnia, António Costa assinalou a intenção de reforçar “a cooperação nesta área e aprender com as técnicas e com o conhecimento existente” naquele Estado da costa oeste da América.

“Gostava que esta cooperação na prevenção e combate aos incêndios fosse alargada ao resto da União Europeia, visto que temos um calendário diferente das ameaças de fogos florestais. Espero que, no futuro, a União Europeia e a Califórnia possam partilhar recursos”, apontou.
“País aberto, pacífico e estável”
Horas antes, ao intervir no Senado da Califórnia, o primeiro-ministro quis promover Portugal como “um país aberto ao mundo, pacífico e estável”.O Senado da Califórnia aprovou por unanimidade a institucionalização do Dia de Portugal, 10 de junho, naquele Estado.

“A Califórnia é uma nova fronteira para a inovação tecnológica e para a economia digital. Portugal quer ser parte deste futuro partilhado”, clamou.

“Já estamos a cooperar com a Califórnia ao nível das instituições e das empresas, cooperação que seguramente vai aprofundar-se. Na História, os portugueses estiveram entre os primeiros a explorar a Califórnia. Chegou o momento de os californianos fazerem o percurso em sentido inverso”, exortou Costa.

Na mesma alocução, António Costa salientou o facto de Portugal combinar as identidades europeia e atlântica.

“Os Estados Unidos são o nosso vizinho do outro lado do Atlântico, constituem o nosso maior parceiro comercial fora da União Europeia. Queremos expandir, diversificar as nossas relações”, afirmou.

c/ Lusa
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