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Planeta Terra enfrenta quatro anos de temperaturas extremas

por RTP
"Há uma grande possibilidade de estarmos no auge de uma fase quente nos próximos anos", afirma o autor do estudo Toby Melville - Reuters

De acordo com uma nova previsão global publicada esta terça-feira, a probabilidade de a Terra enfrentar temperaturas ainda mais extremas nos próximos quatro anos é muito elevada. Cresce assim o risco de fenómenos como inundações, secas e furacões.

Numa altura em que as temperaturas têm atingido valores máximos em vários países, uma nova previsão global não revela dados tranquilizadores. Segundo um estudo publicado na revista científica Nature Communications, o planeta enfrentará temperaturas mais extremas nos próximos quatro anos."Tudo parece estar a aumentar", disse o autor do artigo, Florian Sévellec. "Há uma grande possibilidade de estarmos no auge de uma fase quente nos próximos anos”, acrescenta.

O estudo sugere que, à medida que o aquecimento natural reforça a mudança climática provocada pela humanidade, as temperaturas vão atingir valores mais elevados do que que o normal pelo menos até 2020. Para além disso, aumenta a probabilidade de ocorrência de fenómenos extremos como inundações, secas e furacões.

Tal como diz a investigação, o aquecimento global “não é um processo monótono e suave”.

O aumento da emissão de gases do efeito de estufa está a aumentar a pressão sobre as temperaturas, mas os seres humanos não sentem a mudança de uma forma constante, uma vez que os efeitos são diminuídos ou ampliados por fases de variação natural.

De 1998 a 2010, o planeta esteve num período de “intervalo” relativamente ao aquecimento global. Em termos científicos é explicado como uma época de poucas alterações na temperatura média da superfície planetária. No entanto, a Terra parece ter entrado agora numa fase oposta.
Aquecimento é “comboio de carga”
No presente estudo, é usado um novo modelo de previsão global que concilia a análise do aquecimento global provocado pela emissão de gases do efeito de estufa com a variação natural das temperaturas.

As temperaturas médias globais do ar e do mar podem crescer entre 0,02º e 0,07º. O autor descreve esta previsão como um “evento quente esperado”.

Sévellec afirma que o avanço estatístico da variação natural de temperaturas este ano é duas vezes maior do que o aquecimento global de longo prazo. Revela ainda que em 2019 é provável que seja três vezes maior.

O autor do estudo deixa, no entanto, a ressalva de que os dados revelados não devem ser vistos como uma previsão de maior ocorrência de catástrofes naturais, como ondas de calor, incêndios, secas e inundações. A probabilidade de ocorrência destes eventos aumentará, nomeadamente de furacões e ciclones, uma vez que o estudo prevê que a água do mar vai aquecer mais rápido do que o ar acima da terra. No entanto, sublinha que o modelo está assente numa ampla escala global.

"A variabilidade natural é uma contorção em torno do comboio de carga que é o aquecimento global. Em escala humana é o que sentimos. O que nem sempre sentimos é o aquecimento global. Como cientista isso é assustador, porque não levamos em consideração vezes suficientes. Tudo o que podemos fazer é fornecer informação e deixar as pessoas decidirem”, afirma Sévellec.
Temperaturas de 2018 serão frias no futuro
O autor do estudo afirma que o seu modelo não deve ser visto como um resultado final, mas deve ser tido como exemplo e associado a outros estudos semelhantes.

Vários cientistas elogiaram a investigação de Sévellec, mas apontam a necessidade de uma análise mais ampla: “O seu método é puramente estatístico, por isso é importante ter em conta o que os modelos climáticos preveem com base em tudo o que sabemos sobre a atmosfera e os oceanos”, afirma o professor Gabi Hegerl, da Universidade de Edimburgo, citado por The Guardian.

Também o professor James Renwick, da Universidade Victoria de Wellington, revelou a sua opinião acerca do estudo tendo-o descrito como inteligente mas que as suas conclusões só ficarão claras no futuro.

Renwick alerta que “se a tendência de aquecimento causada pelas emissões de gases do efeito estufa continuar, anos com temperaturas semelhantes às de 2018 serão a norma na década de 2040 e serão classificados como frios até o final do século".
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