Vídeo viral de bailarina com Alzheimer realça importância da música para a memória

Marta Cinta, antiga bailarina profissional, é a protagonista de um vídeo que recentemente se tornou viral nas redes sociais. Ao som de Lago dos Cines, a bailarina espanhola que sofria de Alzheimer conseguiu recordar os passos de dança.

RTP /
Em apenas poucos dias, mais de oito milhões de pessoas assistiram ao vídeo nas redes sociais DR

Durante os últimos dias, o mundo tem-se emocionado com um vídeo a circular nas redes rociais. No vídeo, com pouco mais de dois minutos, vê-se uma mulher idosa, numa cadeira de rodas, que toma coragem e começa a dançar espontaneamente, principalmente com as mãos, à medida que se ouve uma melodia crescente do Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.

A idosa é Marta Cinta González Saldaña, uma antiga bailarina profissional espanhola que abriu a sua própria companhia de ballet em Nova Iorque, no final da década de 60.
Marta Cinta, como era conhecida profissionalmente, sofria de Alzheimer e acabou por falecer em 2019, ano em que o vídeo foi filmado.

No entanto, o vídeo apenas se tornou viral recentemente, depois de a organização espanhola Música Para Despertar – que promove o uso terapêutico da música em pessoas com Alzheimer e outras demências – o ter partilhado na rede social Twitter.


Em 2019, a organização fez uma visita à Residência Muro de Alcoy, em Alicante, onde a antiga bailarina residiu nos últimos anos. Agora, em declarações à agência de notícias espanhola Efe, o fundador e diretor da Música Para Despertar, Pepe Olmedo, recorda a altura em que conheceu Marta Cinta e testemunhou o momento do vídeo.

“Encontrámo-nos com Marta González, ficámos a saber da sua história e testámos com ela as ferramentas do Música para Despertar”, disse Olmedo. “No vídeo, podemos ver como ela reage a um dos temas mais importantes da sua vida”, recorda.

“Ela estava cabisbaixa e, quando começaram os primeiros acordes, ela conectou-se com a composição e ficou emocionada”, explicou o psicólogo à agência de notícias espanhola. Ao longo do vídeo, vê-se Marta Cinta a recordar os passos da coreografia, que se vão desbloqueando à medida que a música prossegue. “Emociona-me”, ouve-se a antiga bailarina a dizer no final, que começa depois a explicar os passos da dança. “É preciso subir em pontas”, recordou Cinta.
O poder da música na memória
A capacidade específica de a música se conectar com doentes que sofrem de diversos tipos de demência é estudada há vários anos e cada vez mais são conhecidos resultados e testemunhos.

Para além de Marta Cinta, um outro exemplo é o de Paul Harvey, antigo pianista e professor de música que conquistou recentemente o primeiro lugar de várias tabelas com uma melodia que improvisou ao piano apesar da sua perda de memória. O momento em que Harvey, de 80 anos, criou a música foi partilhado no Twitter pelo seu filho, que indicou apenas quatro notas musicais ao seu pai. Com essas indicações, Harvey conseguiu de imediato compor a música que ficou conhecida por “Quatro Notas”.


Grace Meadows, diretora da organização Música para Demência, explica a The Guardian que a memória auditiva é uma das últimas coisas que uma pessoa perde, porque é uma das primeiras que desenvolvemos, apenas a 18 semanas de gestação. “É uma das vias neurais mais profundas que são estabelecidas”, esclarece Meadows.

A diretora da organização explica que esta memória auditiva permanece intacta mesmo quando as pessoas sofrem de demência cognitiva, porque a música é processada em muitas partes do cérebro. Por isso, se alguma coisa estiver a bloquear a via neural, o cérebro encontra outro caminho.

No caso de Marta Cina, estes instintos musicais estão relacionados a uma forte memória muscular, o que a leva a recordar a dança à medida que ouve a música do Lago dos Cisnes.

Em apenas poucos dias, mais de oito milhões de pessoas assistiram ao vídeo nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, Facebook, Twitter ou TikTok.
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