DART. O programa espacial que quer "jogar" bilhar cósmico

por Nuno Patrício - RTP
Conceção artística do DART a caminho do sistema binários de asteróides. Credit: NASA/JHUAPL

A Terra é diariamente bombardeada por milhares de detritos espaciais. Pequenas partículas que, em noite de céu limpo, se exprimem em rara beleza, rasgando os céus como "estrelas cadentes". Mas nem tudo é poesia nos “pedregulhos cósmicos”. Neste sentido, a NASA propõe-se enviar um satélite, sem material científico, contra um pequeno asteróide: a ideia é mudar-lhe a trajetória.

Na azáfama da rotina diária, a maioria da população nem pensa nisso. Mas há quem esteja mais atento ao que se passa para lá da atmosfera terrestre do que àquilo que acontece cá em baixo.

A NASA está a trabalhar num projeto de nome DART - Double Asteroid Redirection Test, ou Redirecionamento de Asteróides Duplos.

O objetivo é estudar formas de evitar acontecimentos catastróficos como o que ocorreu há milhões de anos e que se pensa ter obliterado os dinossauros.
Autodefesa planetária
Entre as várias soluções apresentadas para afastar potenciais asteróides em rota de colisão com a Terra, encontramos sistemas teóricos de defesa e prevenção que consistem em satélites que agarram pequenas massas rochosas e as desviam. O programa DART consite na criação de um "crash test-satellite" para saber como reage um astro rochoso após um impacto a alta velocidade no espaço.

Outras, mais ousadas, passariam por aterrar nos asteróides e depois acionar fortes propulsores para criar novas rotas. Há também os casos mais radicais: detonações controladas destruiriam os asteróides.

Todas estas soluções têm prós e contras e nenhuma é colocada à "beira do prato", pois o perigo está algures lá em cima. E pode mesmo não haver tempo para reagir.

A pensar nesse risco, o programa DART, da agência espacial norte-americana, não vai apenas reunir dados científicos. É o primeiro programa de autodefesa planetária contra asteróides.

Mas como realizá-lo? A NASA diz que o podemos fazer tão simplesmente como esmurrar algo.

Este gráfico da NASA mostra como o DART  irá colidir com a lua do asteróide Didymos em 2022. Crédito: NASA

"Bata num asteróide com força suficiente enquanto estiver suficientemente longe da Terra e vai afastá-lo do curso", refere a agência. 
Se tudo correr como previsto e a missão DART for lançada em junho de 2021, a colisão ocorrerá em meados de outubro de 2022.
O alvo está já definido e não é uma ameaça para a Terra, mas a NASA está a estudá-lo cuidadosamente e quer colocar um satélite no espaço para colidir com ele.

De nome Didymos, o alvo do DART foi escolhido com base em critérios muito concretos. Trata-se de um asteróide binário, composto por dois corpos rochosos, sendo que um, o de menor dimensão (150 metros), orbita um asteróide de maior volume (800 metros), que vagueia a cerca de 11 milhões de quilómetros da Terra.

Particularidade esta que significa que o DART pode bater no asteróide de menores dimensões e os cientistas podem recolher dados robustos sobre os corpos e suas localizações, o que os ajudará a seguir e visualizar o crash test-satellite do tamanho de um carro, bem como o momento da colisão.

Dados preciosos que vão permitir à equipa do projeto DART calcular formas precisas de redirecionar verdadeiramente um asteróide potencialmente ameaçador.

Bilhar cósmico
O programa DART nada tem a ver com as missões efetuadas por algumas sondas já enviadas a caminho de asteróides, como são exemplo a missão da OSIRIS-Rex, da NASA, ao asteróide Bennu ou da Hayabusa2, do Japão, que têm por missão explorar asteróides próximos da Terra, recolher amostras trazê-las de volta a casa.

No caso do DART, a ideia é mesmo chocar e criar o maior empurrão possível de uma rocha espacial, sem preocupação de danos materiais quer no objeto enviado, quer no asteróide. E os telescópios vão ser essenciais.

"É interessante porque é uma missão espacial, mas os telescópios são uma parte tão importante e importante da missão", diz Nancy Chabot, cientista planetária do Laboratório  de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, envolvida na missão DARTO grupo de cientistas do projeto DART está animado com a ideia de enviar e arremessar violentamente um objeto contra um asteróide. .

"Temos de saber onde tudo está em todos os momentos, para entendemos o sistema como um todo, mas principalmente e especificamente onde anda aquela pequena lua rochosa, porque queremos tentar acertar-lhe de frente".

Quando ao impacto em si, a equipa quer o crash test-satellite a bater na rocha espacial a uma velocidade de quase seis quilómetros por segundo. Se tudo correr como previsto e a missão for lançada em junho de 2021, a colisão ocorrerá em meados de outubro de 2022.

Telescópios terrestres vão registar o percurso das duas partes de Didymos após o impacto, mas não só. Os cientistas vão poder também contar com uma testemunha ocular, que vai olhar bem de perto esta colisão, através de um cubesat, de nome Light Italian Cubesat for Imaging of Asteroids (ICIA), que a agência espacial italiana propõe enviar com o DART. O DART utilizará o sistema de propulsão elétrica solar da NASA Evolutionary Xenon Thruster - Commercial (NEXT-C). O NEXT-C, sistema da próxima geração, baseia-se na propulsão da nave espacial Dawn e foi desenvolvido no Glenn Research Center da NASA em Cleveland, Ohio.

Como fonte auxiliar na recolha de dados, a Agência Espacial Europeia (ESA) também pretende fazer chegar uma sonda (Hera) a Didymos, em 2026, que será capaz de estudar o asteróide binário com mais detalhe e medir a cratera aberta pelo DART.

De acordo com Nancy Chabot, o grupo de cientistas do projeto DART está bastante animado com a ideia de enviar e arremessar violentamente um objeto contra um asteróide.

Mas Chabot refere também que se pode aprender muito com a experiência e que, se um asteróide realmente aparecer, precisaremos de um alerta: “Por isso, continuar a observar e a identificar os asteróides é crucial”.

"Para fazer algo assim, nós precisamos de um tempo de aviso muito longo; a ideia de uma solução milagrosa e rápida não é como [o filme] Armageddon, onde se vai em última hora até a um asteróide e salva-se Terra. A acontecer é algo que se faz com cinco, dez, 15 ou 20 anos de antecedência, empurrando gentilmente o asteróide para que ele simplesmente navegue alegremente noutra direção e não cause impacto na Terra", remata a cientista.
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