Formação do sistema solar Trappist 1 pode revolucionar teoria de formação planetária

por Nuno Patrício - RTP
Astrónomos da Universidade de Amsterdão apresentaram modelo de formação planetária diferente de todas as teorias existentes, com base em Trappist-1. Foto: Concepção artística, R. Hurt; T. Pyle - NASA - DR

Toda a comunidade científica ainda tem presente a descoberta, em fevereiro deste ano, de um sistema planetário com planetas idênticos ao nosso planeta Terra. Mas uma das interrogações prende-se na questão: como é possível a formação vários planetas, com dimensões semelhantes, na designada “zona de Goldilocks ou zona habitável”?

Esse foi o ponto de partida de vários astrónomos da Universidade de Amsterdão, que após vários estudos e hipóteses, desenvolveram um modelo para explicar a formação do sistema planetário Trappist-1 e outros sistemas compactos.

Neste modelo, os primeiros sete planetas no sistema Trappist-1 são praticamente do tamanho da Terra e com uma órbita muito perto de sua estrela.

De acordo com esta pesquisa, a pequena constelação está na região espacial e na fronteira onde o gelo se transforma em água.

Ou seja, perto desta linha de gelo, os restos sólidos (asteroides e meteoros) que se espalharam das regiões externas, para a estrela, recebem porções de água extra e convergem sobre si, para formar proto-planetas.

"Para nós astrónomos, Trappist-1, com seus sete planetas, caiu como uma boa surpresa. Trabalhamos na agregação de material espacial que dá origem aos planetas há muito tempo e desenvolvemos um novo modelo de linha de gelo. Graças à descoberta do Trappist-1, podemos comparar nosso modelo com a realidade ", refere Chris Ormel, um dos investigadores da universidade de Amesterdão.

No futuro próximo, os astrónomos de Amsterdão querem refinar este modelo. Os astrónomos afirmam que agora vão executar simulações em computador para ver como resiste o modelo a condições iniciais diferentes.

Além destes estudos os investigadores esperam apresentar á comunidade cientifica todos os dados e discutirem entre as descobertas e teorias.

O modelo para já apresentado é sem dúvida revolucionário, porque as pedras (asteroides e meteoros) se deslocam da parte externa do disco para a linha de gelo sem muita atividade no meio.

"Espero que o nosso modelo ajude a responder à pergunta sobre o quão único nosso próprio sistema solar é comparado com outros sistemas planetários".


A pesquisa agora revelada foi aceite para publicação na revista Astronomy & Astrophysics.

Veja aqui o estudo apresentado pelos astrónomos Chris Ormel, Beibei Liu, Djoeke Schoonenberg, exposto no site cientifico Cornell University Library.


Representação artistica da superficie de um dos planetas no sistema planetário Trappist-1; NASA- Reuters

Teorias de formação planetária não se encaixam em Trappist-1

Até aos dias de hoje, havia duas teorias predominantes para a formação de planetas.

A primeira teoria assume que os planetas se formam onde estão localizados espacialmente.

No sistema Trappist-1, esta teoria é improvável porque o disco orbital no qual os planetas tiveram origem, segundo os cientistas, deve ter sido muito denso.

A segunda teoria supõe que um planeta se forma no exterior do disco planetário e, em seguida, por forças de atração gravitacionais, migra para o interior.

Esta teoria também apresenta alguns problemas, visto que Trappist-1 não explica por que os planetas são todos do mesmo tamanho, neste caso, que a Terra.



O modelo apresentado começa então com resíduos sólidos, muitos deles compostos por gelo, que flutuam nas regiões externas e que são puxadas para a estrela.

Quando estes detritos espaciais chegam perto da chamada linha de gelo, o ponto está quente o suficiente para a água se transformar em líquido, eles recebem uma porção adicional de vapor de água e é neste ponto que tudo se processa.

Os detritos convergem entre si e formam um proto-planeta. Com o tempo o proto-planeta aproxima-se um pouco mais perto da estrela, e estabelece a orbita final e estável.

Neste trajeto final o proto-planeta, absorve gravitacionalmente mais material, como um aspirador, até atingir o tamanho da Terra.

De acordo com os astrónomos, a formação dos restantes planetas seguem o mesmo processo, abrindo o primeiro planeta espaço para a formação do planeta seguinte.
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