Já há superbactérias no espaço e fomos nós que as levámos

por Nuno Patrício - RTP
Entre os estudos científicos espaciais feita pelos astronautas está a evolução dos microrganismos no espaço. Foto: NASA/adaptação RTP

Afinal não estamos a criar inadvertidamente nenhum micróbio espacial que vai destruir a humanidade. Mas não pense que os seres microscópios não sofrem mutações na ausência de gravidade e à radiação espacial, porque tal como nós, também eles se adaptam.

Afinal não estamos a criar inadvertidamente nenhum micróbio espacial que vai destruir a humanidade. Mas não se pense que os seres microscópios não sofrem mutações na ausência de gravidade e perante a radiação espacial, porque tal como nós, também eles se adaptam.

Muito se especula sobre as reais consequências que sofrem os microrganismos quando levados para o espaço. Há quem diga que vai nascer uma estirpe mortal para os seres humanos, ou mesmo uma transformação num ser totalmente estranho para a ciência atual.
Um estudo realizado por investigadores da Northwestern University descobriu que micróbios, a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI), alteraram os genes diferenciando-se dos seus correspondentes terrestres, seja como parte da seleção natural ou de uma possível mutação.


Mas afinal os micróbios "espaciais", aqueles que levamos para o espaço nas deslocações científicas, estão a transformar-se e a adaptar-se, mas não na forma de superbactérias, que ameaçam a humanidade e que são resistentes aos antibióticos, como muitos temem.

"Tem havido muita especulação sobre a radiação, a microgravidade e a falta de ventilação e sobre como isso pode afetar os organismos vivos, incluindo as bactérias", diz Erica Hartmann, investigadora e coordenadora do estudo. “Realmente as condições são difíceis e adversas. Mas será o suficiente para a natureza criar superbactérias, para ter alguma vantagem sobre o novo ambiente? A resposta parece ser não.'"

Mas as preocupações são legítimas.
Haverá a hipótese de existir superbactérias no espaço, e que nós não sabemos? Eis uma pergunta que tem duas respostas. Sim, existem e fomos nós que as levamos para bordo da EEI.
Erica Hartmann, professora assistente de engenharia ambiental na McCormick School of Engineering da Northwestern investigou como a vida bacteriana em órbita proporciona uma visão diferente e preciosa sobre como os micróbios e os seres humanos podem interagir em viagens de longa duração no espaço.

Nas viagens espaciais, os astronautas apenas circulam em pequenos compartimentos, onde não podem abrir janelas, sair ou fazer circular o ar. "Estamos genuinamente preocupados sobre como estes fatores possam afetar os micróbios", refere Hartmann.

Ou mesmo sobre como os micróbios possam afetar os humanos a bordo e vice-versa.

Atualmente e desde a primeira introdução de seres humanos na EEI, os microorganismos terrestres (micróbios e bactérias) convivem diariamente com os astronautas a bordo. Trata-se de organismos vivos transportados ou pelo homem, ou pela carga que chega do solo, que chegam à estação espacial e aí permanecem, se adaptam e reproduzem.

Mas até agora, e oficialmente, nenhum astronauta revelou ter contraído uma doença "terrível" e mortal, que levasse à suspeição da mutação de uma bactéria ou micróbio que afetasse a fisiologia e a saúde humana.

 Mark Kelly, comandante da missão STS-134, a trabalhar com conjuntos GAP (Group Activation Pack -  na Plataforma de Vôo do ônibus espacial. Crédito de imagem: NASA

Superbactérias no espaço
Haverá a hipótese de existirem superbactérias no espaço sem nós sabermos? Eis uma pergunta que tem duas respostas. Sim, existem e fomos nós que as levámos para bordo da EEI, para estudar as mutações que sofrem em ambiente adverso e sem gravidade. Quanto às superbactérias verdadeiramente extraterrestres, a existirem, ainda não as descobrimos.
Embora toda esta relação seja uma boa notícia para os astronautas, os autores do estudo ainda estão cautelosos com as implicações para a indústria do turismo espacial, que está em fase crescente.
Mas voltando à colonização das bactérias transportadas para o espaço, o estudo tem sido realizado pelos cientistas e até agora nenhum surto ou contaminação preocupante foi relatado.

É precisamente sobre esta matéria que a equipa de Erica Hartmann se debruça e está a analisar os dados que foram disponibilizados sobre micróbios existentes na EEI.

Um dos microrganismos presentes é o Staphylococcus aureus (que vive normalmente na pele humana e contém a superbactéria MRSA (Methicillin-resistant Staphylococcus aureus), difícil de tratar, mas também o Bacillus cereus, que vive geralmente no solo e não apresenta grande ameaça à saúde humana, mesmo para os astronautas que depois voltam à Terra e trazem com eles estes mesmos microrganismos adaptados.

Erica Hartmann recolhe amostras de poeira para estudo feito em colaboração com o Centro de Segurança Ambiental da Biodesign, liderado por Rolf Halden. Créditos: biodesign.asu.edu

"Parece que as bactérias se adaptam para viver, e não evoluem no sentido de causar doenças", diz Ryan Blaustein, um dos investigadores de Hartmann e primeiro autor do estudo.

Embora toda esta relação seja uma boa notícia para os astronautas, os autores do estudo ainda estão cautelosos com as implicações para a indústria do turismo espacial, que está em fase crescente.

Certo é que os atuais astronautas, antes de embarcarem numa missão espacial, têm de estar obrigatoriamente em perfeitas condições de saúde e todo o ambiente microbiótico é controlado.

Mas, conforme referido acerca da expansão de voos espaciais para turistas, que não seguem necessariamente os critérios definidos para os astronautas, não se sabe o que poderá acontecer. Um pouco como quando alguém tosse num avião e todos ficam doentes.
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