Conversa Capital com Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos

por RTP

"Os compromissos de Estado são para cumprir", é está a resposta do presidente da Associação Portuguesa de Bancos quando questionado sobre os pagamentos do Fundo de Resolução ao Novo Banco.

Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Faria de Oliveira considera que, existindo um compromisso escrito através de um contrato, "o não cumprimento em termos de reputação do país é extremamente negativo". Neste sentido, adianta que gostaria que fosse ultrapassada a disputa política que, do seu ponto de vista, pode prejudicar o interesse nacional e refere que tem esperança que isso aconteça. A criação de um sindicato depende de cada banco e é uma decisão comercial. 

Não se pronuncia sobre "o vender ao desbarato" de Rui Rio relativamente ao Novo Banco, refere apenas que parece ser evidente que os ativos de má qualidade que estavam no BES, eram superiores ao que tinha sido avaliado e isso traz problemas à gestão. Espera por isso que, a bem do interesse público, a gestão atue com o maior rigor possível. 

A propósito da nova Comissão de Inquérito, Faria de Oliveira não se pronuncia diretamente, pede apenas aos deputados mais reserva "para evitar uma exploração político e mediática", que pode prejudicar todo o setor. "Deve ser reservada", lembrando que essa exploração político-mediática "até agora tem afetado manifestamente a reputação do sistema bancário. 

A banca vai ser fundamental para a recuperação da economia e está disposta a desempenhar esse papel, mesmo que isso signifique perdas de rentabilidade, mas não pode continuar a ser penalizada. Nesta entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Faria de Oliveira considerou fundamental que "haja um ambiente que não prejudique a perceção dos investidores em relação ao sistema bancário português, nomeadamente condições mais gravosas por comparação com outros países da UE e que implicam aumento de custos e diminuição de proveitos. Neste sentido, considera o travão às comissões bancárias uma medida populista. 

Segundo Faria de Oliveira, a banca é essencial e "vai ter papel decisivo no resgate à economia", e o jogo político não deve ser um obstáculo a este papel do sistema bancário. Ainda assim, há bancos que podem ter de vir a realizar aumentos de capital porque, para enfrentar a crise pandémica, a rentabilidade vai diminuir.

O presidente da APB concorda com a extensão das moratórias, mas não tem dúvidas: o incumprimento vai aumentar. Neste sentido, considera que é bem-vindo o Banco do Fomento e adianta mesmo que não vai retirar atividade à banca privada. Considera ainda que é preciso começar desde já a trabalhar no aumento de capital das empresas. Nesse sentido, Faria de Oliveira revelou que está já a trabalhar com o governo na criação de produtos financeiros, que contribuam para esse aumento de capital. 

Segundo Faria de Oliveira, "a recuperação não vai ser tão rápida quanto gostaríamos", as medidas têm de ser colocadas rapidamente no terreno, o Plano de Recuperação e Resiliência faz sentido, no entanto a grande prioridade deve ser a criação de riqueza e a aplicação de recursos mais fortes no incentivo ao investimento produtivo de empresas de grande dimensão.

Uma entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Rita Atalaia do Jornal de Negócios.
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