Conversa Capital com Luís Fernandes, Presidente da Associação Técnica da Indústria de Cimento

por RTP

A indústria cimenteira nacional vai investir 500 milhões de euros na descarbonização até 2030 e mais 1500 milhões até 2050. Se isto não acontecer, a ATIC - Associação Técnica da Indústria de Cimento - considera que pode estar em causa a sobrevivência das empresas e de todos os postos de trabalho.

Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios o presidente da ATIC e CEO da Cimpor, Luís Fernandes, adiantou que a indústria pretende fazer o seu caminho cumprindo as metas para a descarbonização e, para o efeito, conta com as verbas do PRR e do Portugal 2030. As cimenteiras estão a trabalhar na produção do chamado "cimento verde", em processos que visam aumentar a eficiência dos fornos, nomeadamente com a utilização dos gazes quentes para a produção de energia elétrica, sendo que a Cimpor conta ter já uma fábrica a trabalhar assim no próximo ano, e a utilizar energias renováveis, porque se isso não avançar, o futuro do setor está em risco.


Mas para que os projetos, nomeadamente do PRR, não fiquem pelo caminho, a ATIC pede mais celeridade nos licenciamentos.


Luís Fernandes revelou também que a falta de mão de obra na construção civil e a prudência do investimento privado, levaram a uma redução das vendas de cimento no segundo trimestre deste ano. Ainda assim, a ATIC - Associação Técnica da Indústria de Cimento - estima acabar o ano com valores superiores aos registados o ano passado, mais 3 ou 4 por cento do que em 2021.

Nesta altura produzir cimento custa mais 20 por cento do que no início do ano. Este aumento dos custos está assente, em grande parte, no aumento da eletricidade. Em 2 anos os custos da eletricidade triplicaram e as medidas que o governo tem vindo a introduzir permitiram apenas compensar 10 por cento desse custo. São mais 150 euros por cada megawatt hora. O preço tem vindo a ser refletido no consumidor final, mas com alguma redução também das margens de lucro.


A indústria do cimento é um dos sectores que enfrenta maiores desafios em matéria de neutralidade carbónica porque também é uma das mais poluentes e, por isso, o presidente da ATIC pede ao governo que aumente as taxas de deposição em aterro, obrigando a que haja um aproveitamento maior dos resíduos e a uma taxa mais baixa.


Nesta entrevista o presidente da ATIC adiantou ainda que não foi contactado no sentido de interromper a produção para disponibilizar energia por causa da situação de seca, e acredita que não será necessário.

Entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Maria João Babo do Jornal de Negócios.
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