Agravamento da pandemia leva África do Sul a preparar 1,5 milhões de sepulturas

por RTP
Siphiwe Sibeko/reuters

Com o aumento exponencial de casos nos últimos dias, a região sul-africana de Gauteng é, agora, o epicentro da Covid-19 na África do Sul. As autoridades de saúde desta província receiam que o número de mortos também comece a subir e anunciaram que vão ser abertas mais de 1,5 milhões de sepulturas, preparando-se para enterros em massa.

O número de infetados já ultrapassa os 500 mil em todo o continente africano. A pandemia "está a atingir velocidade máxima" em África, alertou o diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong, esta quinta-feira.

Segundo os dados das autoridades esta quinta-feira, o continente já contabiliza 522.104 casos de infeção e 12.206 vítimas mortais, continuando a África do Sul a ser o país mais afetado em todo o continente, com 224.665 casos e 3.602 mortos - representando 42 por cento dos casos de infeção.

Apesar das medidas drásticas adotadas pelo Governo sul-africano durante os primeiros meses da pandemia, a escalada de casos durante o mês de junho colocou o país como um dos que têm mais casos ativos no mundo (mais de 100.000).

Isto deve-se principalmente à preocupante evolução da pandemia na província de Gauteng, o coração económico e político da África do Sul, que regista um aumento explosivo de infeções, especialmente desde que a economia reabriu em 1 de junho.

A província de Gauteng, onde se situam as cidades de Joanesburgo e Pretória, já é considerada o novo epicentro da pandemia no continente africano com um total de 75.015 (mais 3.527 nas últimas 24 horas).

Nesse sentido, e receando que com o aumento de casos de infeção aumentem também as mortes na região, o chefe provincial de saúde, Bandile Masuku, anunciou a decisão de se abrirem sepulturas, antecipando uma potencial vaga de enterros, devido à propagação descontrolada do novo coronavírus.

"Estamos a preparar mais de 1,5 milhões de sepulturas. É uma informação desconfortável, como médico não é um dos melhores assuntos, mas é a realidade com que temos de lidar e para a qual temos de estar preparados", disse Masuku numa conferência de imprensa, acrescentando que espera que estas sepulturas não venham a ser necessárias.

Caso as sepulturas fossem usadas, significaria que morreriam 10 por cento da população de Gauteng, que tem 15 milhões de habitantes. Embora o objetivo das autoridades de saúde seja o de minimizar os contágios e, assim, prevenir mais mortes devido à covid-19, Bandile Masuku considera que é melhor que a província esteja preparada.

Segundo Masuku,  o "pico" da pandemia na região pode ser só em Agosto, mas, se forem impostas medidas de saúde pública e restrições, a escalada de contágios pode ser reduzida.

O médico garantiu que todos os "municípios estão a aumentar a sua capacidade e a adquirir terras necessárias para enterros".

"Este é um assunto delicado", afirmou, lembrando, no entanto, que "há sempre uma boa hipótese de evitar o pior do pico".

Criticadas por gerar o "pânico" com a criação de sepulturas, as autoridades de saúde já vieram esclarecer que "a província não cavou mais de um milhão de sepulturas", e que "esse número se refere apenas à sua capacidade total", caso seja necessário abrir mais covas.
Hospitais à beira do "colapso"

Bandile Masuku anunciou ainda que, quando abrir o novo hospital só dedicado a doentes com Covid-19 em Gauteng na próxima semana, são esperadas 500 camas hospitalares preparadas. Mas prevê que, até ao final do mês de julho, haja mais outras 500.

Embora as autoridades estejam a preparar-se para os piores cenários e os centros de saúde comecem a encher-se, por enquanto as taxas de mortalidade e de hospitalização na África do Sul continuam baixas.

O ministro da Saúde Zweli Mkhize disse, no Parlamento, que, embora estejam a ser preparados hospitais de campanha e espaço em hospitais militares, a capacidade hospitalar "será excedida em todas as províncias".

"A capacidade de camas, incluindo todas as camas atualmente ocupadas dos setores público e privado, deverá ser ultrapassada nas próximas quatro semanas".

O "pico" da crise da saúde no país pode estar próximo e, por isso, a preocupação das autoridades aumenta.

"Estamos num ponto em que os nossos pais, mães, irmãos, irmãs, amigos íntimos e camaradas estão infetados", disse ainda o ministro.

Segundo as autoridades o pico da pandemia na África do Sul é esperado no próximo mês de agosto, podendo até lá aumentar cada vez mais o número de infeções.

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