Cimeira Ibero-Americana. Países exigem reforma na saúde e apelam à união contra a pandemia

por RTP
Tiago Petinga - Lusa

Esta terça-feira, na abertura da XXVII Cimeira Ibero-Americana que decorre em Andorra, os líderes de Espanha, França, Chile, Costa Rica e Portugal abordaram a necessidade de reformar e fortalecer o sistema de saúde global para melhorar a capacidade de resposta a futuras pandemias. Os vários líderes apelaram ainda à solidariedade e à união global para combater a atual crise sanitária, com António Costa a criticar as “guerras nacionais” de vacinas.

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa estão entre os poucos chefes de Estado e de Governo que participam fisicamente neste encontro de 22 países na XXVII Cimeira Ibero-Americana. Os restantes chefes de Estado dos países latino-americanos participam nos trabalhos da cimeira por videoconferência devido à pandemia.

Em conversa com a Secretária-Geral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan, num dos eventos prévios à cimeira, os Presidentes do Governo de Espanha, França, Chile, Costa Rica e de Portugal apelaram à reforma do sistema de saúde mundial para melhorar as capacidades de preparação e de resposta diante de futuras pandemias como a atual, "para que ninguém fique para trás”.

Os chefes de Estado e de Governo propuseram uma série de princípios para avançar na reforma do sistema de saúde global alinhados com a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente a promoção da abordagem "uma só saúde", que vincula a saúde dos seres humanos, dos animais e do nosso planeta, e o apoio aos sistemas de saúde de todo o mundo e a aliança de todos os atores relevantes, incluindo a sociedade civil e o setor privado.

Os líderes destes cinco países apelaram ainda à solidariedade e à união global contra a pandemia da Covid-19, nomeadamente em relação às vacinas, para que se consiga uma distribuição mais eficaz e equitativa.
“Não são admissíveis guerras comerciais”
Na sua intervenção, António Costa criticou a proibição de exportações e “guerras nacionais” em torno de vacinas.
O líder do executivo português defendeu a "importância de se criarem cadeias de valor global de produção", criticando, em contraponto, "a tentação de se fechar fronteiras para se proibir exportações".

"A União Europeia é uma das regiões que nunca interrompeu a exportação de vacinas e grande parte (senão mesmo a totalidade) das vacinas disponíveis na Covax (cooperação mundial) foram produzidas aqui na Europa", apontou o primeiro-ministro, país que detém até junho a presidência do Conselho da União Europeia.

Neste ponto, António Costa sustentou que os Estados Unidos e o Reino Unido, entre outros, devem seguir este exemplo, fornecendo vacinas à Covax.


Não são admissíveis guerras comerciais com base em bens essenciais, como são as vacinas”, afirmou Costa. “Por isso temos de ter também um organismo internacional comum de reconhecimento da segurança das vacinas e que possam ter uma licença global”, acrescentou.

O primeiro-ministro português defendeu ainda que todas as vacinas que demonstrem eficácia e segurança devem poder entrar no mercado europeu, independentemente da origem, sublinhando que “assim como o vírus, as vacinas também não têm nacionalidade”.

Marcelo evoca exemplo português para defender união
A experiência portuguesa no plano político no combate à Covid-19, ao longo do último ano, foi tema central da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa neste Fórum Empresarial Ibero-Americano.

O Presidente da República sublinhou que, acima de tudo, é preciso haver consenso político, observando que em Portugal, “mais de 80 por cento dos deputados dos partidos do parlamento aceitaram ao longo de mais de um ano o estado de emergência, os confinamentos e os desconfinamentos”.

“Consenso político ainda é preciso neste momento e no futuro, porque se trata de uma questão global e não de uma questão eleitoral, partidária, de um grupo social ou económico"
, disse o chefe de Estado português.

Marcelo deu ainda como exemplo as reuniões do Infarmed, destacando que em Portugal, “todos os 15 dias, houve reuniões entre epidemiologista, sanitaristas, Presidente da República, presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro, Governo, líderes de todos os partidos parlamentares para discutir e para projetar o futuro face à crise pandémica”.

O Presidente da República apelou, de seguida, à solidariedade, salientando que a questão do combate à pandemia “é de todos”. "Estamos todos no mesmo barco, ninguém de salva sozinho. A vacinação é uma prioridade, todos, vacinação universal, global e igualitária. Só isso permite desenvolvimento sustentável. Sem isso é uma ilusão acreditar num desenvolvimento sustentável", defendeu o chefe de Estado.

Marcelo sublinhou, porém, que a solidariedade entre todos só se consegue com medidas concretas e considerou essencial que se comece a "preparar a recuperação e a reconstrução económica e social".

"É preciso levar mais longe a solidariedade no mundo Ibero-Americano. A proposta espanhola e argentina para a cimeira é importante, porque passa pelo FMI. Assim como a Europa vai criar inevitavelmente um novo sistema financeiro, é preciso que o FMI ajude nas sobretaxas, nos desembolsos, nas condições de prazo de financiamento, nos direitos de saque especial. O FMI tem de ajudar, caso contrário é mais difícil construir a solidariedade para a reconstrução do futuro", advogou o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa marcaram ainda presença num encontro com a comunidade portuguesa em Andorra.

A XXVII Cimeira, que inicialmente estava calendarizada para 2020, mas foi adiada devido à crise sanitária, tem como lema “Inovação para o desenvolvimento sustentável – Objetivo 2030. Ibero-Americana face ao desafio do coronavírus”.

c/Lusa
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