Covid-19. Atendimento nos centros de saúde espanhóis saturado

por RTP
Enrique Calvo/Reuters

Os cuidados de saúde primários foram dos mais afetados pela pandemia. E agora, com a retoma das consultas médicas em atraso, as férias de muitos profissionais de saúde e as novas funções de rastreamento e atendimento de doentes Covid-19, os centros de saúde em Espanha começam a estar sobrecarregados.

O atendimento médico e a prestação de cuidados de saúde primários já foram retomados nos centros de saúde em Espanha. Mas, para apoiar os esforços dos hospitais no combate à pandemia, os centros de saúde começaram também a priorizar o atendimento de casos de infeção ou de suspeita de infeção pelo novo coronavírus, em pessoas jovens e com sintomas ligeiros.

O objetivo é evitar multidões nos centros de saúde e detetar sintomas compatíveis com a infeção do Sars-Cov-2, antes de os pacientes se dirigirem a um centro de saúde ou hospital. Após uma consulta por telefone, os profissionais de saúde decidem se o paciente deve ir ou não ao centro de saúde.

No entanto, o cenário na saúde espanhola não parece animador. Muitas foram as consultas adiadas por causa da pandemia e o atendimento por telefone continua a ser priorizado. E, com receio que o país seja atingido por uma segunda vaga da Covid-19, as comunidades autónomas obrigaram muitos profissionais de saúde a tirar férias nos meses de julho e agosto, para evitar um potencial "colapso" dos serviços de saúde no outono.

Com listas de espera para consultas a aumentar e a sobrecarga dos médicos de família - que, em articulação com os responsáveis de Saúde Pública, rastreiam casos de Covid-19 -, o controlo de possíveis surtos e focos locais torna-se difícil.

"Em locais com muitos surtos e se não houver suficientes responsáveis pelo rastreamento - em Espanha, há menos da metade dos considerados necessários - o principal [o médico de família] é o que deve fazer esse trabalho, além de atender todas as patologias não covid", Vicente Matas, membro da Atenção Primária da Organização Médica, ao El País.

"Todos, economistas da saúde, gestores, profissionais de saúde, concordam que a resposta ao coronavírus é um cuidado primário bem-dotado e muito coordenado com a Saúde Pública", disse também Salvador Tranche, presidente da Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunidade (Semfyc). "Se isso não acontecer, a pandemia não poderá ser controlada ou gerida e todo o sistema de saúde entrará em colapso. A situação atual, e considerando a insuficiência de recursos, complica e dificulta muito o controlo da pandemia".

Um dos maiores surtos ativos de Covid-19, neste momento, é a região de Lérida. E a situação "é pior do que em março", garantiu Salvador Tranche.

Antes, o problema era a falta de testes para diagnosticar. Agora, depois de confirmar um caso positivo, começa um "turbilhão" de compromissos e de documentação, o que exige uma "carga de trabalho inimaginável".

Em anos verões normais, os médicos de férias não são substituídos. Mas, com a pandemia, e a "situação mental" e exaustão dos profissionais de saúde, a situação agrava-se. A situação é de "sobrecarga" em todo o país, e "muito preocupante" na região de Aragão e na Catalunha, frisou ainda Tranche.
Centros de saúde - os parentes pobres do Sistema Nacional de Saúde

Os cuidados de saúde primários foram, desde sempre, os mais afetados em qualquer situação de crise. Segundo o jornal espanhol, o investimentonesta área da saúde tem diminuído desde 2010.

Com a pandemia e a falta de profissionais de saúde, foi necessário reforçar os serviços de saúde com médicos internos e ainda sem especialização.

A contratação de médicos residentes ou internos e pessoas sem qualificações (médicos estrangeiros não aprovados ou profissionais sem especialização) "é inaceitável, porque é ilegal e porque é uma situação de insegurança e de risco para os pacientes", afirmou Víctor Pedrera, médico de Saúde Gral e Familiar em Alicante e Secretário-Geral Adjunto da Confederação Espanhola de Sindicatos Médicos.

"São médicos que, dentro de alguns meses, quando começarem o internato, não poderão passar uma receita ou cancelar a inscrição sem supervisão, mas que agora estão a fazer prescrições por conta própria e a atender carteiras de pacientes", acrescentou.

Atualmente, existem entre 45 e 50 pacientes por dia nas agendas dos médicos e, embora 75 por cento das consultas sejam por telefone, é muito dificil fazer um bom atendimento, principalmente se não se conhece bem o paciente.

Mas segundo os especialistas o problema pode agarvar-se a partir de setembro, quando começarem as constipações e as gripes sazonais e, ainda a enfrentar uma pandemia, os serviços de saúde começarem a não ter capacidade para dar resposta.
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