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Covid-19. Fumadores correm maior risco de ser infetados, alertam especialistas

por Inês Moreira Santos - RTP
Florion Goga - Reuters

Os fumadores são mais vulneráveis a infeções do trato respiratório e, segundo os especialistas, são 14 vezes mais propensos a ser infetados pelo novo coronavírus.

É sabido que as substâncias como o tabaco prejudicam a saúde e enfraquecem o sistema imunitário, mas quais são os riscos para um fumador num contexto de pandemia de Covid-19?

Um grupo de investigação da Turkish Green Crescent divulgou esta semana um estudo que revela que os fumadores têm 14 vezes mais probabilidade de ser infetados e ter mais problemas associados à Covid-19 do que os não fumadores.

"O uso de tabaco e produtos de tabaco aumenta o risco de infeção pelo novo coronavírus, portanto, evitar todas as substâncias viciantes é importante na proteção contra o vírus", explicou à Agência Anadolu o presidente do grupo contra as dependências químicas, Mucahit Ozturk, apelando a que os fumadores tentem evitar o tabaco como prevenção de contágio pelo Sars-Cov-2.

A associação entre o tabagismo e a infeção respiratória aguda prende-se com a capacidade de resposta do sistema imunitário ao vírus. Para além de enfraquecer o sistema imunitário, o tabaco provoca danos nos pulmões e noutros órgãos do sistema respiratório, o que, no caso de infeção pelo novo coronavírus, pode provocar um impacto negativo no tratamento.

"Um sistema imunitário fraco representa uma ameaça à saúde, uma vez que atrasa o processo de recuperação e dificulta o tratamento durante a epidemia, mesmo que só ocasionalmente consuma substâncias viciantes", explicou OZturk.

O fumo pode causar danos nos pulmões e impedir o reflexo da tosse, e, assim, potenciar que vírus e bactérias consigam agregar-se às vias aéreas e pulmões, provocando infeções respiratórias.

"O corpo humano está programado para recuperar a partir do momento em que pára de fumar", acrescentou ainda o investigador.

A verdade é que "duas horas após o último cigarro ser fumado, a nicotina começa a deixar o corpo" e a "frequência cardíaca e a pressão sanguínea baixam e voltam ao normal daí a seis horas"

"Após apenas 12 horas, o corpo limpa-se do monóxido de carbono. Em dois dias, as pessoas podem perceber um aumento do olfato e um paladar mais vívido. A circulação sanguínea continua a melhorar entre duas a 12 semanas, o que aumenta a resistência a atividades físicas, como caminhar e correr. De três a nove semanas, problemas como tosse, falta de ar e a farfalheira no peito são reduzidos à medida que os pulmões ficam mais fortes", acrescentou.
Fumar pode potenciar transmissão
Não é a primeira vez que se indica que os fumadores podem ser mais vulneráveis à Covid-19.

Segundo uma investigação do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, os fumadores corriam um risco maior de morrer devido à Covid-19 do que os idosos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já tinha alertado também para o maior risco e vulnerabilidade dos fumadores, visto que o ato de fumar implica o contacto dos dedos com os lábios, o que aumenta a possibilidade de transmissão "mão-boca" do vírus.


Contudo, os investigadores lembram que o problema não é apenas fumar e os efeitos do tabaco.

Um dos problemas levantados por este grupo de investigação é o uso do cachimbo de água, não apenas pelos efeitos nocivos como pela higiene, uma vez que, normalmente, fumam do mesmo cachimbo várias pessoas ao mesmo tempo.

"Fumar cachimbos de água, especialmente os compartilhados, representa um risco para a transmissão de doenças infecciosas", frisou Ozturk.
Poucos fumadores infetados com novo coronavírus
Mas há ainda uma questão que divide os médicos e investigadores: a maioria dos casos graves não são fumadores.

"Constatámos que a esmagadora maioria dos casos graves não são de fumadores, como se o tabaco, através da nicotina, os protegesse do vírus", revela Jean-François Delfraissy, diretor do comité científico que acompanha a evolução da Covid-19 em França.

Um grupo de cientistas norte-americano apurou que apenas 1,3 por cento dos sete mil casos estudados eram tabagistas.

Num estudo chinês, essa percentagem não ultrapassava os 12,3 por cento, e, inicialmente, os investigadores contavam que fosse superior.

"Dois estudos de qualidade detetam cinco vezes menos fumadores entre os doentes de Covid-19 na China e dez vezes menos do que nos EUA", alertou na semana passada Bertrand Dautzenberg, ex-pneumologista e presidente da organização francesa Paris Sans Tabac.

"Não nos podemos, no entanto, esquecer que o tabaco mata 200 pessoas por dia. É urgente aprofundar esta análise e fazer novas investigações", defende o especialista.

"Será por causa do fumo? Será devido à nicotina? Ainda não o sabemos mas há vários estudos em andamento para tentar explicar este fenómeno", conclui Bertrand Dautzenberg.

Enquanto houver poucas conclusões sobre o assunto, as dúvidas entre os especialistas vão persistir. Mas todos apelam a que os fumadores evitem fumar de forma a prevenir a infeção do novo coronavírus.
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