Covid-19. Ministério da Saúde prevê novo máximo de internamentos em cuidados intensivos esta semana

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Manuel de Almeida - Lusa

Em conferência de imprensa sobre a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à pandemia de Covid-19, a ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu que Portugal deverá ultrapassar máximo de doentes hospitalizados em unidades de cuidados intensivos (UCI) a 28 de outubro. A ministra da Saúde anunciou ainda que o SNS tem disponíveis mais de 17 mil camas para Covid-19, caso seja necessário.

A partir da próxima quarta-feira, a pressão sobre os hospitais vai aumentar. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, a 28 de outubro será ultrapassado o máximo do número de doentes Covid-19 hospitalizados em unidades de cuidados intensivos na primeira vaga (271). Segundo os cálculos deste instituto, até ao dia 4 de novembro estarão internados 2.634 doentes por Covid-19, dos quais 444 nos cuidados intensivos – são mais 972 internados em enfermaria e 204 em UCI do que aqueles contabilizados no boletim epidemiológico desta segunda-feira.

“Não estou a dizer que no dia 4 teremos o pior cenário, estou a dizer que os cálculos vão até dia 4 novembro e que o dia 4 traz um cenário de grande complexidade”, revela a ministra. “Se teremos capacidade de respondermos a esse dia 4? Teremos, mas já com grande complexidade daquilo que será a nossa necessidade de fazer adaptações”, acrescenta.

Marta Temido explicou que “nos últimos dias verifica-se já uma tendência crescente do número de doentes com Covid-19 hospitalizados e em cuidados intensivos”, mas alerta que se irá observar um aumento “das hospitalizações e mesmo dos óbitos nas próximas semanas”, dada a fragilidade da população com idade superior aos 85 anos.

A ministra da Saúde anunciou que se tem observado um “aumento do número de casos em todas as faixas etárias, com uma expressão do grupo que vai dos 20 aos 39 anos e em pessoas com mais de 85 anos”. Na semana de 12 a 18 de outubro “foram ultrapassados os máximos em quase todos os grupos etários em termos de novos casos” e a taxa de notificação do grupo de mais de 85 anos ultrapassou o máximo observado na semana de 20 a 26 de abril, “uma das semanas mais complicadas” desde o início da pandemia, disse Marta Temido.
SNS com mais de 17 mil camas disponíveis para Covid-19
Face a este aumento da pressão sobre os hospitais, a ministra da Saúde anunciou que o SNS tem 19.778 camas disponíveis em hospitais gerais, sendo que 17.741 poderão ser disponibilizadas a doentes de Covid-19. Deste total de camas, 5.905 são na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, 3.807 na ARS Centro, 6.420 em Lisboa e Vale do Tejo, 792 na ARS do Alentejo e 817 no Algarve. Porém, Marta Temido alertou que “esta capacidade está afeta a outros tratamentos”.
Fonte: SNS

Quanto à capacidade de resposta a picos de afluência, a ministra indicou que estão disponíveis 17.225 camas em enfermaria e 852 em unidades de cuidados intensivos. “Esta é a capacidade máxima”, sublinhou Marta Temido, explicando que esta é uma “situação já muito extremada de preparação para resposta a picos de afluência”. Portugal tem também disponíveis 1.889 ventiladores, mais 747 do que em março.

A ministra da Saúde afirmou que, neste momento, existem 2.120 camas disponíveis para tratar doentes Covid-19 (1.802 em enfermaria e 318 em UCI). “A capacidade de camas geral é gerida em função daquilo que são as necessidades de resposta e encontrando o melhor equilíbrio possível entre aquilo que são as necessidades”, concluiu a ministra, afirmando que esta capacidade “é dinâmica e de gestão flexível”.

Marta Temido afirmou que, “apesar de os portugueses estarem mais bem preparados para responder à pandemia e de o SNS também o estar, a situação é complexa e grave”. “Nenhum sistema de saúde tem uma capacidade elástica e por isso devemos preservar a capacidade de resposta dos nossos hospitais”, sublinhou a ministra da Saúde, afirmando que o Ministério da Saúde está preparado para “reencaminhar os utentes que não tenham resposta no SNS, para os setores privado e social”.

A ministra da Saúde também garantiu que se houver necessidade, o Ministério da Saúde “fará gestão entre regiões” para garantir uma resposta preparada do SNS. “As regiões não estão fechadas à chave”, disse Marta Temido.
Mais de cinco mil profissionais de saúde contratados nos primeiros nove meses do ano
Marta Temido relembrou que, no combate à pandemia, “não bastam camas”, salientando o reforço que foi feito também a nível dos recursos humanos.

A ministra da Saúde destaca a “clara evolução do reforço de efetivos no SNS entre 2015 e 2019”, com mais 15.425 “efetivos líquidos”. Adicionalmente, no conjunto de todos os profissionais de saúde, foi feito um reforço com mais 5.459 efeitos entre 31 de dezembro e setembro de 2020.

Fonte: SNS

Relativamente a médicos, foram contratados 548 novos médicos nos primeiros nove meses do ano e um total de 3.710 entre 2015 e 2019. No que diz respeito a enfermeiros, foram contratados 1.727 entre 31 de dezembro de 2019 e setembro de 2020 e 6.689 entre 2015 e 2019.
Média diária de testes atual é de 24.397
Em relação à capacidade laboratorial, a média atual de testagem é de 24.397 testes por dia. Em março, esta média era de 2.578 testes diários.

Até ao momento, o pico diário de testagem foi registado a 20 de outubro, com 32.717 testes realizados, dos quais 10,9 por cento tiveram um resultado positivo. No total, já foram realizados mais de três milhões de testes. Portugal encontra-se na lista dos dez países europeus com uma maior proporção de testes por um milhão de habitantes, com uma taxa estimada em 309.900 testes.

No que diz respeito à aplicação StatAway Covid, os dados do SNS demonstram que já foram realizados mais de 2,4 milhões de downloads, mas apenas 566 códigos foram inseridos.
Governo preparado para “abranger novos concelhos por medidas mais restritivas”
No final da conferência de imprensa, Marta Temido acrescentou ainda que o Governo está preparado para, “no contexto do estado de calamidade e com base em avaliações de risco, abranger eventuais novos concelhos por medidas mais restritivas para reduzir o número de contactos e ajudar o país a controlar este novo crescimento da transmissão”.

“Em função da avaliação de risco de cada concelho e território, poderemos agravar as medidas, tal como fizemos em relação a Lousada, Paços de Ferreira e Felgueiras. Essa avaliação está feita e poderá haver medidas mais graves agora decretadas”, asseverou Marta Temido.
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