Covid-19. Países usam métodos díspares e ineficazes para registar mortes

por Joana Raposo Santos - RTP
A Itália é o país com a mais elevada taxa de mortalidade até ao momento: 11,4 por cento. Foto: Alessandro Garofalo - Reuters

Até ao momento, os dados oficiais apontam para mais de 40 mil mortos por Covid-19 a nível global. Epidemiologistas alertam, porém, que o número real pode ser muito superior, uma vez que vários países não estão a utilizar o método mais correto para registar as vítimas mortais. Tal pode verificar-se em França, Espanha ou Reino Unido: cada um destes países utiliza uma metodologia diferente, sendo que nenhuma delas aparenta ser a adequada.

Em França, as autoridades de saúde apenas estão a contabilizar as mortes por Covid-19 que aconteçam em ambiente hospitalar. Isto significa que todas as pessoas, nomeadamente idosos, que morram em casa ou num dos sete mil lares do país na sequência desta doença não entram para as estatísticas oficiais.

Apenas esta semana, quando denúncias de várias mortes em lares de idosos começaram a surgir, o presidente Emmanuel Macron anunciou que os falecimentos ocorridos nestas instalações passariam a ser seguidos diariamente pelas autoridades de saúde.

Algo semelhante acontece em Espanha, onde também não entram para as estatísticas do novo coronavírus as mortes ocorridas em lares de idosos quando estes não tenham sido submetidos a testes de despiste à Covid-19. Dados recolhidos pelo diário El Pais apontam para um aumento das mortes nos lares espanhóis, muito provavelmente por culpa desta doença, à semelhança do que está a acontecer em Portugal. A Holanda apenas conduz testes em pacientes hospitalizados, pelo que tanto o número de infeções como de mortes no país podem ser superiores aos dos dados oficiais.

No Reino Unido, até ao início de março, quando um paciente morria num hospital na sequência de uma doença respiratória não era registada a causa da infeção, a não ser quando legalmente exigido, como era nos casos de tuberculose ou malária. Apenas no dia 5 deste mês a Covid-19 entrou para a lista de doenças que têm de ser reportadas quando resultem em óbito.

Além disso, no Reino Unido a maioria dos testes é realizada ou em hospitais ou em casos de pessoas com sintomas graves da doença, sendo que pessoas com sintomas leves em isolamento domiciliário não são habitualmente testadas. Quando o número de infeções nesse país chegou a 500, as autoridades britânicas de saúde alertaram que na realidade poderiam ser já entre cinco mil a dez mil as pessoas contagiadas.
Taxa de mortalidade na Alemanha não chega a um por cento
Há ainda o caso da Alemanha, onde a taxa de mortalidade por Covid-19 é atualmente inferior a um ponto percentual. Neste momento o país conta com mais de 65 mil infetados e apenas 648 mortos.

Os números oficiais alemães, fornecidos diariamente pelo Instituto Robert Koch, têm, assim, gerado controvérsia, até porque são inferiores àqueles divulgados pela Universidade norte-americana John Hopkins, que está a acompanhar a evolução da pandemia a nível global.

A Alemanha justifica o baixo número de mortes com o facto de muitas das pessoas infetadas que acabam por morrer possuírem outras doenças prévias, sendo muitas vezes impossível provar a causa da morte. Uma fonte do Instituto Robert Koch esclareceu ao El Pais que as vítimas mortais podem ser testadas após o óbito, mas não avançou se a Alemanha está a fazê-lo em todos os casos.

De acordo com epidemiologistas, as diferenças entre os vários países na contagem de falecimentos levam à perda de fiabilidade das taxas de mortalidade. A juntar a esse problema, surge o facto de os países terem dificuldade em determinar o número exato de infeções pelo novo coronavírus, em grande parte devido à falta de kits de testes.

Quando são poucas as pessoas a serem testadas, o número de casos confirmados é inferior ao número real de infetados e, consequentemente, a percentagem de mortes torna-se mais elevada. “A posteriori poderá ser feita uma aproximação mais ou menos exata, mas será sempre apenas uma aproximação”, argumentou o porta-voz da Sociedade Espanhola de Saúde Pública, citado pelo El Pais.
Itália com o melhor método
Em Itália, estão a ser contabilizadas as mortes de todas as pessoas que testaram positivo para a Covid-19, independentemente do seu historial clínico, de acordo com a recomendação do Instituto Superior de Saúde desse país.

Esse parece, até ao momento, ser o melhor método de contabilização dos óbitos, e pode explicar por que razão a Itália é o país com a mais elevada taxa de mortalidade até ao momento: 11,4 por cento.

O Instituto Superior de Saúde italiano preocupa-se ainda em realizar um estudo epidemiológico para aprofundar as causas da morte entre os doentes com Covid-19 e, duas vezes por semana, publica um boletim informativo no qual esclarece se esses pacientes possuíam ou não outras doenças prévias.

O país consegue, assim, fazer uma distinção entre as mortes de pacientes por Covid-19 ou com Covid-19.
DGS altera método de contagem do número de infetados
Em Portugal, a contagem do número de casos de pessoas infetadas é da responsabilidade da Direção-Geral da Saúde (DGS), que tem utilizado uma “metodologia mista”, juntando os casos comunicados pelas administrações regionais de saúde (ARS) e pelo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (Sinave).

Esta terça-feira, após ter admitido a possibilidade de uma dupla contagem dos casos de infeção no Porto, a DGS informou que passaria a utilizar apenas os dados da Sinave, esclarecendo que os boletins epidemiológicos com as contagens passarão a ficar mais incompletos, dado que esta entidade apenas reporta cerca de 70 a 75 por cento do total de casos do país.

Quanto aos lares de idosos, na segunda-feira o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que o objetivo é que "na próxima semana" seja possível cobrir o país com iniciativas de despistes da Covid-19 em lares.

O novo coronavírus infetou, até agora, 7443 pessoas em Portugal, das quais 43 recuperaram. A doença fez ainda 160 vítimas mortais no país.

c/ agências
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