Covid-19. Trabalhistas alertam para risco de segunda vaga com "má gestão" de Boris Johnson

por RTP
Reuters

Keir Starmer acusa Boris Johnson de fazer uma "má gestão" no alívio das restrições impostas devido à pandemia, no Reino Unido. Alertando para o risco de haver uma nova vaga no país, o líder trabalhista considera que a subida da taxa de infeção será responsabilidade do Governo.

Keir Starmer não se tem manifestado nos últimos dois meses, admitindo que as questões relativas à pandemia não são um trabalho fácil para o Governo britânico. Mas, em entrevista ao Guardian, o líder trabalhista instou o primeiro-ministro a "controlar e restaurar a confiança" do Reino Unido na abordagem à Covid-19.

Segundo Starmer, Boris Johnson provocou um colapso na confiança do público com a forma como tem estado a lidar com a crise do novo coronavírus e o Número 10 de Downing Street será o principal responsável se a taxa de infeção começar a subir novamente.

"Aviso o primeiro-ministro de que precisa de controlar e restaurar a confiança do público no que toca ao tratamento da epidemia pelo Governo", disse na entrevista. "Se vemos um aumento acentuado na taxa R, na taxa de infeção ou numa série de bloqueios locais, a responsabilidade por isso cai diretamente na porta do número 10".

O Governo garante que o "desconfinamento" está a processar-se com "cautela". Mas para o líder da oposição, o primeiro-ministro está a "exagerar" no alívio das restrições e a tornar uma situação já difícil "dez vezes pior".

"Todos sabemos que o público fez enormes sacrifícios. Essa má administração das últimas semanas é de responsabilidade do Governo".
Boris Johnson tem de "controlar" crise

O líder trabalhista é claro quanto à sua posição: a população britânica perdeu a confiança no Governo e o abrandamento das restrições pode piorar a situação. Por isso, o primeiro-ministro tem de "controlar" a crise pandémica.

"Pedimos uma estratégia de saída. O que parece que conseguimos foi uma saída sem uma estratégia. Queremos ver a sociedade reabrir, queremos ver mais crianças de volta à escola, obviamente que as pessoas querem ver as suas famílias e queremos ver as empresas abertas".

"Mas, como muitas pessoas em todo o país, há uma preocupação crescente de que o Governo agora esteja a esquivar-se. Precisamente no momento em que deveria haver confiança máxima no Governo, a confiança desmoronou-se", argumentou.

A perda de confiança a que se refere Keir Starmer deve-se também ao polémico caso do assessor de Boris Johnson, Dominic Cummings. O assessor do primeiro-ministro ter-se-á deslocado mais de 400 quilómetros no final de março, com a sua família, após terem sido impostas restrições nas deslocações dentro do Reino Unido, ficou infetado com Sars-CoV-2 e voltou a deslocar-se em família no mês de abril.

Embora tenha gerado polémica, Boris Johnson terá expressado apoio ao seu assessor quando muitos exigiam a sua demissão, na semana passada, o que fez "desmoronar" a confiança da população.

"É o fator Cummings, é claro, a imposição de uma regra para eles e uma regra para todos os outros", afirmou. "Mas é também a má gestão do levantamento de restrições".

O líder trabalhista está cético quanto à maneira como Johnson anunciou o abrandamento das medidas de restrição em plena a meio da polémica de Cummings.

"Eles obviamente decidiram desviar a atenção do caso Cummings. Há questões a que o Governo precisa de responder, principalmente sobre o momento exato das medidas adotadas", afirmou.

Para Starmer esta "perda de confiança" é o "aspeto mais preocupante de todo o caso Cummings".

O líder trabalhista disse ainda que quer reunir com Johnson, Mark Sedwill, secretário do gabinete, e Chris Whitty, o principal consultor médico, para discutir as preocupações do partido Trabalhista com a "má administração" da crise a Covid-19, nas últimas semanas.

Keir Stamer garante que os trabalhistas querem trabalhar "construtivamente" com o Governo para conseguirem alcançar um consenso quanto às medidas de desconfinamento, tendo enviado uma carta "privada e confidencial" a Boris Johnson, à qual o primeiro-ministro não respondeu.
Risco de segunda vaga preocupa autoridades

O Reino Unido está a entrar faseadamente no desconfinamento. Com o alívio de algumas restrições, começam a abrir-se fronteiras e, por isso, a partir da próxima segunda-feira, todos os que entrarem no Reino Unido têm de ficar em isolamento 14 dias.

Portugal e o Reino Unido estão em conversações para conseguir um acordo de "ponte aérea", com o objetivo de retomar o turismo.

Nesse sentido, o ministro da Saúde, Edward Argar, disse que espera que as pessoas possam viajar nas férias este ano, mas alertou que não há uma "data específica sobre quando isso pode acontecer".

"Teremos de nos orientar pelo comportamento da doença, controlando qualquer risco de uma segunda vaga e controlando a doença", disse à BBC.

Em consonância com as opinões de Keir Starmer, a trabalhista Rachel Reeves também considera que a "saída do confinamento" está a acontercer "sem nenhuma estratégia para funcionar".

A parlamentar trabalhista disse que o alívio das restrições foram "a hora do perigo máximo" e que o partido está a apelar a que se conceba uma estratégia "eficaz" para testar, rastrear e isolar, para que haja "acesso rápido aos testes" e se possam "limpar" as mensagens públicas.

Entretanto, um porta-voz de Downing Street disse que o foco do Governo é "ajudar o país recuperar com segurança do coronavírus e restaurar os meios de subsistência de milhões de pessoas em todo o país".

"Agora é a hora de olhar para o futuro e não para o passado, pois continuamos a combater esse vírus, enquanto tomamos medidas cautelosas para diminuir as restrições. O primeiro-ministro espera ouvir todas as propostas concretas que o trabalho tem a oferecer".
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