Covid-19. Números da pandemia não ajudam Trump durante entrevista

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Donald Trump garante que "está tudo sob controlo" Jonathan Ernst - Reuters

Numa entrevista transmitida pela HBO na segunda-feira, Donald Trump ficou visivelmente atrapalhado quando interrogado sobre os números relacionados com a evolução da Covid-19 nos EUA. O presidente norte-americano continua a elogiar a resposta do seu Governo à pandemia, defendendo que está a fazer “um ótimo trabalho”.

Durante a entrevista conduzida pelo correspondente político do site de notícias norte-americano Axios, o presidente dos EUA voltou a afirmar que está a fazer “um ótimo trabalho” na resposta ao novo coronavírus. Perante esta afirmação, o jornalista Jonathan Swan confrontou Trump, apresentando-lhe os factos: os EUA são o país mais afetado pela pandemia, superando já 4,7 milhões de infetados e 155 mil mortos. O país detém mais de um quarto do total de infeções a nível global.

Trump contrapôs e, olhando para uns gráficos que tinha em sua posse, afirmou que os “EUA são o [país] que apresenta números mais baixos em inúmeras categorias”.

“Estamos abaixo do mundo e da Europa”, disse Trump, ao que o jornalista questionou: “Em quê?”. O presidente entregou de seguida as folhas com os gráficos para que o jornalista pudesse confirmar.

“Está a falar do número de mortes em proporção com o número de casos. Eu estou a falar sobre o número de mortes em relação à população. É aqui que os EUA estão realmente mal. Muito pior do que a Coreia do Sul, Alemanha, etc.”, reiterou Swan.

“Não pode fazer isso", disse Trump, visivemente desorientado. "Tem de ir pelos casos”, defendeu o presidente. “Veja, estamos em último, o que significa que estamos em primeiro, temos os melhores [números]”, continuou a defender Trump enquanto apontava para os gráficos sobre o número de casos nos EUA.


“Milhares de americanos estão a morrer a cada dia. Eu percebo que relativamente aos casos [de infeção] é diferente”, respondeu Swan, com Trump a acusar o jornalista de não estar “a reportar corretamente”.
“É por fazermos mais testes que temos mais casos”
O presidente norte-americano apresentou, de seguida, os gráficos referentes ao número de testes realizados no país para suportar novamente a afirmação de que a razão pela qual os EUA têm o maior número de casos está relacionada com o facto de serem o país com maior capacidade de testagem.

“Não recebemos crédito por isso?”, questionou Trump. “É por fazermos mais testes que temos mais casos. Veja, estamos no topo, isso é uma coisa positiva, não negativa”, continuou a argumentar o presidente.

“Eu não nego os seus gráficos. Testou muito mais do que o resto do mundo. Eu não nego isso”, respondeu o jornalista. “Se o número de internamentos no hospital e de mortes estivesse a diminuir, eu diria ‘fantástico’, merecia ser elogiado pela testagem. Mas estão todos a subir”, respondeu Swan a Donald Trump.

O presidente norte-americano insistiu: “Nós já testamos mais pessoas do que qualquer país, duas vezes mais do que toda a Europa (...) Nós já fizemos perto de 60 milhões de testes”.

“Sabe, existem aqueles que dizem que ‘pode estar a testar demais’. Sabe disso”, disse Trump, que já sugeriu mesmo diminuir o número de testes de forma a ser registado um menor aumento do número de casos no país. Questionado sobre quem defende essa afirmação, Trump respondeu: “Leia os manuais, leia os livros”.

“Deixe-me explicar. O que os testes fazem é mostrar casos, onde podem existir casos de infeção. Sabe quando outros países testam? Quando alguém está doente”, explicou Trump. “E eu não estou a dizer que eles estão certos ou errados. Ninguém fez como nós fizemos e não recebemos qualquer crédito”, acrescentou, defendendo que “o único problema que temos agora é o de algumas pessoas terem de esperar mais do que gostaríamos” para receber o resultado do teste. “Os outros países não testam como nós e é por isso que não apresentam muitos casos”, salientou Trump.

Durante a entrevista, Trump também afirma, apesar de não apresentar provas, que as crianças estão a testar positivo à Covid-19 apenas por apresentarem corrimento nasal, um sintoma que não é tido como um dos mais comuns de infeção pelo vírus SARS-CoV-2.

Você testa uma criança que tem apenas um pouco de corrimento nasal e é um caso”, disse Trump. “E reportam como se tivéssemos mais casos do que países como a China, que não apresenta os dados, como sabe”, continuou.

Trump garantiu depois que “tudo está sob controlo”
. “Como?”, questionou o jornalista, reforçando que o número de mortes sobe em milhares a cada dia. “Eles estão a morrer, é verdade. É a realidade. Mas isso não significa que não estamos a fazer tudo o que podemos. Está sob controlo na medida em que podemos controlar”, respondeu Trump, quando o jornalista o criticou sobre as suas controversas afirmações em relação ao uso de máscara.

O presidente norte-americano tentou, de seguida, transferir as culpas pelos surtos de Covid-19 aos governadores dos diferentes Estados: “Fizemos um ótimo trabalho. Concedemos aos governadores tudo o que eles precisavam. Eles não fizeram o trabalho deles”.
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