Em pleno surto. Sindicatos alertam para escassez de médicos na região de Madrid

por RTP
Nacho Doce, Reuters

Os serviços de urgência e de cuidados primários de Madrid enfrentam uma situação intolerável na região de Madrid em pleno surto de covid-19. Em causa está a falta de médicos, que apresenta um défice estrutural nas equipas de saúde destacadas na capital espanhola. Com o encerramento que vem desde o início da pandemia, serão 2.000 pessoas que ficam diariamente sem cuidados de saúde numa altura em que o país atinge novos picos em pessoas infetadas.

Esta semana trouxe más notícias para os espanhóis, com registo de um forte aumento de novos casos de covid-19. Só na quarta-feira foram 390 as pessoas infetadas com o novo coronavírus, depois de um crescimento já assinalável na contabilidade dos dias anteriores. Madrid continua nessa corrida, apesar de surgir nas contas espanholas depois da comunidade autónoma de Aragão e da Catalunha. A região da Catalunha notificava ontem 938 novas infeções, mas grande parte foram casos atualizados de infeções registadas em dias anteriores.

Trata-se, de qualquer forma, do maior aumento de casos em Espanha desde o fim do estado de emergência, há quase um mês, o que aponta para, se não o início de uma segunda vaga, pelo menos para o surgimento de novos surtos, o suficiente para deixar o alerta nas autoridades de saúde.

Na comunidade de Madrid foi ontem assinalado o quarto surto após a saída do estado de emergência; as outras três situações foram detectadas em locais de trabalho (duas delas) e num contexto habitacional.
Sobra covid e faltam médicos

Mas a situação de Madrid está agora a levantar preocupações face a outro fator que se conjuga com o ressurgimento desses novos doentes: a falta de pessoal médico, atribuído pela CSIT Unión Profesional (Coligação Sindical Independente de Trabalhadores de Madrid) “ao défice estrutural das equipas médicas”, que na região da capital estará “nos 15-20% quando comparado com a média das restantes comunidades autónomas”.

Nas contas deste sindicato, a Comunidade de Madrid é uma das mais afetadas pelo novo coronavírus, situação agravada pelo facto de a capital estar à frente no ranking das regiões que menos investem no sector da saúde. Só nos últimos anos, estima o CSIT, a região perdeu cerca de 4.500 profissionais, acrescendo que continua a apresentar uma das “percentagens mais baixas no investimento público na área dos cuidados primários de saúde”.

“[O governo autonómico] decidiu aproveitar a pandemia para prosseguir com o desmantelamento dos Cuidados Primários na região, deixando desamparados os profissionais que cumpriram durante a crise sanitária com total entrega e responsabilidade, apesar das dificuldades”, lamenta o CSIT em comunicado.

O sindicato lamenta ainda a solução encontrada pelo governo para esta falta de pessoal médico: “O Ministério da Saúde decidiu unilateralmente limitar a atividade de vários centros de saúde durante o verão, reorganizando os recursos com base nos turnos disponíveis”.
Doentes sem acompanhamento médico
A covid-19 é uma doença cuja taxa de cura pode ser considerada elevada, muito acima dos 95% na generalidade dos países. No entanto, é também sabido que apresenta períodos de convalescença muito prolongados, estando ainda a ser estudados os efeitos permanentes que o vírus tem no organismo daqueles que foram infetados.

Estas são dúvidas que obrigam a um acompanhamento mais ou menos próximo dos convalescentes, numa altura em que as autoridades de saúde de alguns países assinalam o aparecimento de doentes que recuperaram e voltaram a ficar infetados, como é o caso dos Estados Unidos. Em Espanha, a contabilidade aponta para um número total de infetados desde o início da pandemia de mais de 257 mil (com cerca de 28 mil mortos).

É um contexto que sublinha o alerta agora deixado pela UGT. O sindicato aponta Madrid como o município com maior número de pacientes sem acompanhamento médico, na ordem dos 95 mil, para criticar a decisão do governo de reduzir os serviços na área dos cuidados primários.

“Mais uma vez, o Ministério da Saúde esquece o importante papel que os profissionais de cuidados primários desempenharam, e continuam a desempenhar, no diagnóstico e controlo da covid-19 e prefere não os ouvir. A medida vai levar ao reagrupamento de profissionais num único centro, com alterações e limitações nos horários de consultas e ambulatórios, e possivelmente ao encerramento de outros”, lamentou a UGT.

O sindicato considera que a decisão de manter estes centros fechados poderá vir a “representar mais riscos para a saúde” num verão atípico em que os madrilenos vão sair menos para férias e com aumento do turismo.
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