Estado da Nação. Portugal mais pobre, com menos emprego e maiores desigualdades em 2022

por Inês Moreira Santos - RTP
Rafael Marchante - Reuters

A enfrentar uma pandemia, Portugal tem sofrido várias mudanças sociais e económicas, nos últimos meses. Mas se o cenário atual não parece muito animador, as expectativas dos portugueses para a economia portuguesa daqui a dois anos são ainda mais pessimistas, revela uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa.

Com a Covid-19, a situação económica e social de muitos portugueses mudou drasticamente. As expectativas para a evolução da economia em Portugal, daqui a dois anos, revelam-se sombrias.

Face à situação atual, os portugueses acreditam que, daqui por dois anos, Portugal será "um país mais pobre, com maior desigualdade social, com mais austeridade e menos emprego". É assim que a maioria dos portugueses imagina o contexto económico português, segundo a Sondagem Social e Política do CESOP–Universidade Católica Portuguesa para a RTP e o jornal Público.

De facto, em função do que se conhece hoje, 70 por cento dos inquiridos consideram que Portugal estará mais pobre daqui por dois anos e 55 por cento estimam que as desigualdades sociais se acentuem ainda mais. O cenário parece ainda mais pessimista face aos 71 por cento que acreditam que o desemprego vai aumentar, na mesma altura. 

Se compararmos as estatíticas antes e depois da pandemia podemos entender as expectativas menos animadoras dos portugueses. De acordo com os dados do relatório, três por cento dos inquiridos ficaram em lay-off, "seis por cento estão agora desempregados" e "quatro por cento afirmam estar sem atividade", desde o início da pandemia em Portugal.
Sandra Machado Soares, Rodrigo Lobo, José Pinto Dias - RTP

Selecionados apenas os inquiridos a trabalhar no momento em que foi realizado o inquérito, a maioria (55 por cento) acredita que vai continuar a ter trabalho a médio prazo (um período definido de seis meses). Contudo, 13 por cento acham que é "algo ou muito provável perder o emprego no próximos seis meses".

Dos inquiridos, selecionados aleatoriamente, há ainda 66 por cento que afirmam que voltarão a enfrentar períodos de mais austeridade.
Menos rendimentos, menos férias

A pandemia, a suspensão de algumas atividades económicas, o lay-off e o desemprego vieram alterar os rendimentos de alguns agregados familiares. Embora a maioria dos inquiridos (67 por cento) admita que os rendimentos familiares não sofreram alterações, "29 por cento dos inquiridos têm agora rendimentos do agregado inferiores ao que tinham antes da crise".

Desses participantes que revelam ter o seu rendimento reduzido, 16 por cento dizem que "o rendimento desceu para mais de metade do que recebiam".

Segundo o mesmo relatório, "35 por cento dos inquiridos com rendimentos até 1000 euros ganham agora menos do que antes da pandemia". "Para os inquiridos com rendimentos entre os 1000 e os 2500, essa percentagem é de 24 por cento. Entre os que recebem mais de 2500, 17 por cento perderam rendimento".

No entanto, "parece haver alguma recuperação de rendimentos, sendo agora maior a percentagem que diz ter rendimentos iguais ao que eram antes da pandemia".

E, considerando as quebras em alguns rendimentos e a situação epidemiológica, a "maioria da população não tenciona fazer férias este ano fora da sua residência".

Dos inquiridos que, em anos normais, se deslocam para fazer férias, 45 por cento responderam que "de certeza que não" farão férias fora de casa e nove por cento dizem que "provavelmente não".

Mas para quem quer tentar passar uns dias fora, os destinos mais indicados são "o Algarve (referido por 34 por cento dos que pensam sair), a Região Norte (26 por cento), a Região Centro (19 por cento) e o Alentejo (16 por cento)".

Mesmo com uma pandemia global, há ainda seis por cento que indicaram "destinos na Europa e três por cento fora da europa".
Economia e justiça vão piorar

Mas não é só economicamente falando que as expectativas não são as mais promissoras.

Embora mais de metade dos participantes deste estudo considerem que Portugal vai continuar a ser um país "democrático" (59 por cento), tão ou mais "justo" do que atualmente (63 por cento) e, talvez, mais "solidário" (38 por cento), 40 por cento receiam que seja um país menos "seguro".

A juntar às descrenças dos portugueses, a maioria estima que o investimento público vai ser menor do que é atualmente.

Na ótica dos portugueses, as expectativas para a Economia, daqui a dois anos, são claramente pessimistas - 67 por cento dos inquiridos imaginam que a economia em Portugal vai estar pior.

Apesar de as piores previsões serem para o sector económico, 40 por cento dos inquiridos também consideram que a justiça será afetada e, por isso, estará pior também.

Já no que se refere ao ambiente as previsões parecem melhores. A maioria acha que não será muito diferente (37 por cento), mas 34 por cento acreditam que pode estar melhor.

Certo é que, a nível da "imagem internacional", 42 por cento acham que não será negativamente afetada e 29 por cento dizem que pode ser melhor, em 2022.

Considerando o contexto atual, as previsões dos portugueses para daqui a dois anos revelam, neste relatório, ser pouco positivas para a evolução da Economia em Portugal.

Ficha técnica

Os 1217 participantes desta sondagem foram selecionados aleatoriamente, através de uma lista de números de telefone fixo e de telemóvel, 34 por cento da região Norte, 21 por cento do Centro, 31 por cento da Área Metropolitana de Lisboa, seis por cento do Alentejo, quatro por cento do Algarve, dois por cento da Madeira e dois por cento dos Açores.

Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo (50 por cento foram mulheres), escalões etários, grau de escolaridade e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE.
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