Hungria não vê vacinas como assunto "ideológico ou geopolítico"

por Lusa

O chefe da diplomacia da Hungria justificou hoje o donativo de vacinas contra a covid-19 a Cabo Verde com a parceria estratégica com o arquipélago e por aquele Governo recusar que as vacinas sejam assunto "ideológico ou geopolítico".

Em entrevista à agência Lusa, na Praia, Péter Szijjártó, que entregou hoje às autoridades cabo-verdianas um donativo de 100 mil doses da vacina da AstraZeneca contra a covid-19, recordou que contrariamente ao processo de aquisição de vacinas pela União Europeia o seu Governo avançou também com compras de doses das vacinas Sputnik V (Rússia) e Sinopharm (China).

"Basicamente temos vacinas suficientes para vacinar quem quer ser vacinado e isso permite-nos dar assistência a quem precisa. Foi assim que conseguimos fazer a maior doação a Cabo Verde", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comércio da Hungria.

"Como é que estamos numa situação em que podemos doar 100 mil vacinas? Contrariamente à União Europeia, nós nunca consideramos as vacinas como um assunto de natureza ideológica ou geopolítica. Sempre consideramos as vacinas como são, nomeadamente ferramentas para salvar vidas", acrescentou Péter Szijjártó.

O donativo hoje concretizado é suficiente para imunizar (com duas doses) 50 mil pessoas, o equivalente a praticamente 15% da população elegível (cerca de 330 mil pessoas com mais de 18 anos) cabo-verdiana.

Para Péter Szijjártó, a "forte relação" entre os primeiros-ministros dos dois países, Viktor Orbán e Ulisses Correia e Silva, foi igualmente determinante.

"Gostamos da parceria estratégica e relação de amizade entre os dois países. Respeitamos muito as políticas de Cabo Verde, incluindo a política de disciplina migratória, o respeito pela herança cristã e por proporcionar segurança aos seus cidadãos", apontou o chefe da diplomacia húngara.

O governante realizou uma visita de algumas horas à Praia, durante a qual manteve reuniões com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e com o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, entre outras.

"Se os amigos precisam, nós ajudamos", apontou Szijjártó, sobre a doação de vacinas a Cabo Verde, elogiando em simultâneo as políticas do Governo cabo-verdiano, nomeadamente em matéria de política de imigração.

"Podiam ser um exemplo para todos os países africanos", disse ainda.

Sobre as vacinas doadas, o governante espera que possam permitir "acelerar o processo de vacinação" em Cabo Verde, recordando que na Hungria, com o reforço permitido pelas aquisições de vacinas na Rússia e na China, 60% da população está vacinada contra a covid-19 (mais de 5,2 milhões de habitantes com pelo menos uma dose de uma das várias vacinas disponíveis e 806.089 casos da doença desde o início da pandemia).

Recordou ainda que a compra das vacinas Sputnik V e Sinopharm foram antecedidas de um processo de verificação pelas autoridades e especialistas húngaros: "Este processo mostrou-nos claramente que ambas as vacinas são seguras se eficazes. Assim, em vez de estar a fazer disso um assunto ideológico ou geopolítico, nós compramos essas vacinas e com isso somos o número um na Europa, em proporção, na vacinação, podemos reabrir a economia e voltar à normalidade como o primeiro país europeu a fazê-lo".

Para já, afirmou ainda, a Hungria não tem planos para novos donativos internacionais, embora não descarte apoiar em caso de necessidade.

"Não temos planos para doar vacinas a outros países africanos, mas doamos vacinas aos nossos vizinhos próximos. Ajudamos a República Checa, a Eslovénia, a Macedónia do Norte. E se houver alguma necessidade podemos ajudar nos Balcãs Ocidentais", concluiu.

A pandemia de provocou, pelo menos, 3.739.777 mortos no mundo, resultantes de mais de 173,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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