Embora seja o maior produtor a nível mundial, a Índia começa a enfrentar escassez de vacinas contra a Covid-19 em alguns dos Estados mais populosos, ao mesmo tempo que tenta combater uma nova vaga da pandemia. Além do aumento exponencial de novas infeções e da imposição de confinamento no país, os limites de exportação de produtos e materiais essenciais está a atrasar a produção.
A Índia ultrapassou esta segunda-feira os 15 milhões de infetados com o novo coronavírus desde o início da pandemia, após ter registado um novo recorde diário, tanto em número de casos como em mortes. O país asiático, onde foi identificada uma nova variante do SARS-CoV-2, está a enfrentar uma segunda vaga e nas últimas 24 horas identificou 273.810 contágios, de acordo com o Ministério indiano da Saúde.
Com este aumento de casos e de doentes hospitalizados, pressionando o sistema de saúde que já admite escassez de camas e de oxigénio, o Governo decidiu impor novo confinamento na capital, Nova Déli, a partir desta segunda-feira.
Às restrições impostas para combater esta nova vaga de casos acrescenta-se o facto de estarem limitadas as exportações de materiais necessários fundamentais para a produção de vacinas.
No início de fevereiro, o Presidente norte-americano, Joe Biden, invocou a Lei de Produção de Defesa dos Estados Unidos para limitar a exportação de produtos necessários para a produção da vacina contra a Covid-19. Na altura, a Casa Branca afirmou que usou esta lei para ajudar a gigante farmacêutica Merck a aumentar a produção da vacina Johnson & Johnson.
No final de março, também a União Europeia estabeleceu limites de exportação semelhantes para conseguir aumentar a produção de vacinas na Europa.
Estas duas limitações afetaram o processo de produção de vacinas no Serum Institute of India.
"Há muitos itens essenciais de que os fabricantes precisam", disse Adar Poonawalla, CEO da SII, à Reuters no início de março. "A vacina Novavax, da qual somos um grande fabricante, precisa desses materiais dos Estados Unidos".
Na semana passada, Adar Poonawalla apelou a Joe Biden para "levantar o limite às exportações de matéria-prima dos EUA para que a produção de vacinas possa aumentar".
Segundo a Economist, a produção de vacinas na Índia pode mesmo parar nas próximas semanas, caso os EUA não forneçam materiais essenciais, como tubos de plástico e filtros.
Atrasos na produção global de vacinas
Os centros de vacinação em todo o país foram obrigados a fechar devido à falta de vacinas e prevê-se que a cadeia de abastecimento global continue limitada até que as exportações de materiais comecem a decorrer normalmente. Contudo, as proibições de exportação estão a afetar, indiretamente, também a produção e a distribuição global de vacinas e não apenas a Índia.
Para além de produzir para vacinar os quase 1,4 mil milhões de habitantes da Índia, o SII também é um dos grandes fabricantes e fornecedores da iniciativa COVAX - acordo internacional de produção e distribuição de vacinas a países em desenvolvimento.
Contudo, tanto a população indiana como os 92 países com os quais o Serum Institute of India se comprometeu a entregar 200 milhões de doses, vão ter de aguardar por novas doses.
"As entregas de doses do Serum Institute of India serão adiadas em março e abril", anunciou a COVAX, que é administrada por uma coligação que inclui a Organização Mundial de Saúde, a 25 de março.
A SII tem um acordo para fabricar a vacina da AstraZeneca, assim como uma vacina própria chamada Covaxin. Já tinha, anteriorente, fornecido 28 milhões de doses para distribuição do COVAX e estava previsto que entregasse mais 40 milhões de doses em abril e 50 milhões em maio, avança a CNN.
Governo vai financiar produção
Perante a nova vaga de infeções e a escasez de meios para combater a pandemia, foram vários os Estados indianos que pediram ajuda aos governos federais.
Para fazer face à falta de vacinas contra o coronavírus, o SII, pediu financiamento ao Governo indiano para aumentar a sua capacidade mensal de produção para mais de 100 milhões de doses até o fim de maio.
Para fazer face à falta de vacinas contra o coronavírus, o SII, pediu financiamento ao Governo indiano para aumentar a sua capacidade mensal de produção para mais de 100 milhões de doses até o fim de maio.
A empresa indiana é a maior fabricante mundial de todas as vacinas e já distribuiu mais de 100 milhões de doses na Índia e exportou cerca de 60 milhões para outros países. Mas esta semana, solicitou uma doação ao Governo, no valor de cerca de 400 milhões de dólares norte-americanos para aumentar a produção da vacina AstraZeneca e, de acordo com relatórios na segunda-feira, o Executivo de Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano deve aprová-la.
"Temos a certeza de que conseguimos dar todo o apoio necessário para desenvolver e aumentar a disponibilidade de vacinas no país", disse uma fonte do Governo no domingo, à Reuters.
Contudo, dado o aumento na procura interna de vacinas, é pouco provável que apenas um financiamento do Governo ajude a suprir a queda nas exportações de vacinas. A Índia atrasou grandes a maioria das encomendas deste mês, exportando apenas cerca de dois milhões de doses, em comparação com os 64 milhões que entregou entre o final de janeiro e março.
Até agora, na Índia foram administradas mais de 123 milhões de doses da vacina AstraZeneca e da indiana Covaxin - ambas produzidas pelo Serum Institute of India. Mas apenas 14,3 milhões de pessoas foram totalmente vacinadas, o que é pouco mais de um por cento da população no país.
Neste momento, as autoridades de saúde indianas prentendem aumentar a produção da Covaxin e acelerar as importações de vacinas desenvolvidas pela Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson. Além disso, foi aprovado pelos reguladores do país o uso da vacina russa Sputnik V.
O Governo pretende vacinar 250 milhões de pessoas até o final de julho e, a partir de 1 de maio, todos os adultos serão tecnicamente elegíveis para a vacinação.
Reino Unido proíbe viagens da Índia devido a nova variante
Depois de Boris Johnson ter cancelado uma visita oficial à Índia, esta segunda-feira, o Governo britânico anunciou a interdição de viagens da Índia a partir da próxima sexta-feira devido ao agravamento da situação epidémica do país asiático.
Numa intervenção no parlamento, o ministro da Saúde, Matt Hancock, adiantou que já foram identificados 103 casos da nova variante identificada na Índia designada por B.1.617, cujo risco ainda está a ser investigado. Nesse sentido, anunciou que a Índia vai entrar na "lista vermelha" de países cujas viagens para o Reino Unido estão limitadas a nacionais britânicos ou residentes no país.
Ao chegarem, os viajantes são obrigados a cumprir uma quarentena de 10 dias num hotel designado a um custo de 1.750 libras (2.020 euros).
"Temos de agir porque temos de proteger o progresso que fizemos neste país em combater esta doença terrível", vincou Hancock.
Depois de Boris Johnson ter cancelado uma visita oficial à Índia, esta segunda-feira, o Governo britânico anunciou a interdição de viagens da Índia a partir da próxima sexta-feira devido ao agravamento da situação epidémica do país asiático.
Numa intervenção no parlamento, o ministro da Saúde, Matt Hancock, adiantou que já foram identificados 103 casos da nova variante identificada na Índia designada por B.1.617, cujo risco ainda está a ser investigado. Nesse sentido, anunciou que a Índia vai entrar na "lista vermelha" de países cujas viagens para o Reino Unido estão limitadas a nacionais britânicos ou residentes no país.
Ao chegarem, os viajantes são obrigados a cumprir uma quarentena de 10 dias num hotel designado a um custo de 1.750 libras (2.020 euros).
"Temos de agir porque temos de proteger o progresso que fizemos neste país em combater esta doença terrível", vincou Hancock.
Recorde-se que os dois países estão atualmente num braço de ferro relativamente a vários milhões de doses da vacina AstraZeneca do Serum Institute, que deveriam ter chegado no mês passado ao Reino Unido, mas que o Governo indiano reteve para usar no país e combater o aumento de casos de covid-19.
Após um novo recorde de infeções, a Índia, que já supera os 15 milhões de casos e mais de 178.000 mortes desde o início da pandemia covid-19, impôs um confinamento de uma semana na capital para evitar o colapso do sistema de saúde devido à falta de camas, oxigénio, medicamentos e, agora, de vacinas.